Por Marília Rezende

O rio que avança sobre a cidade, ou a cidade avança sobre o rio?
A cidade de São Paulo, assim como muitas outras, começou ao redor do rio. Era ele, na verdade, o motivo de sua existência. Com o tempo, o homem precisou abrir espaço e ajustar o rio às suas necessidades, inclusive sanitárias.
Foi assim que o rio deixou de ser uma prioridade. Reduzimos sua área, limitamos suas curvas, escondemos suas águas. E, como se não bastasse, construímos em sua várzea.

Chove tanto mas falta água.
A chuva quer penetrar o solo e chegar aos lençóis freáticos.
Mas o solo poroso foi substituído pelo concreto rijo. Demos passagem aos carros, mas não demos às águas.

Se escondemos os rios, quem vai se lembrar deles?
Rios correm por baixo de toda a cidade de São Paulo. Debaixo da Pompéia há o Rio Água Preta; sob a Avenida 23 de Maio, o Rio Itororó; sob a Avenida 9 de Julho, o Saracura e o Iguatemi e por aí vai. Em geral, lembramos do rio em dois momentos: quando ele seca e quando ele alaga a cidade.

Mais verde, por favor.
Áreas verdes têm um importante papel na absorção da água. Praças, parques, jardins, matas preservadas…
São soluções que partem da natureza e que estão sendo aplicadas em diversas cidades do mundo. Será que precisaremos ir ainda mais longe para retornar às nossas raízes?
O que muda, se nada mudar?
Nossa maneira de ver o rio foi até hoje, no mínimo, estreita. E, com as mudanças climáticas, os eventos extremos se ampliam. A frequência das chuvas fica mais intensa; as cidades, mais vulneráveis.