Por Emerson Luchesi
Certamente você já deve ter visto um drone sobrevoando a área de um evento, captando imagens através de fotografias ou vídeos. Contudo, o uso desse aparelho tecnológico vem sendo adaptado para variados fins. A utilização doméstica e corporativa dessa ferramenta se resume, frequentemente, no registro de celebrações diversas, como shows, e de espaços em geral. Porém, essa simples função tem sido cada vez mais inovada e aplicada a outras tarefas, alcançando diferentes setores e contribuindo para o trabalho e desenvolvimento de muitos segmentos da economia — e a agricultura está entre eles.
Com o objetivo de mapear e monitorar lavouras, os drones possuem capacidade de identificar problemas na plantação, como doenças, pragas, falhas de plantio, entre outras situações detectadas através de imagens. Além disso, essa ferramenta também permite mapear de forma precisa mais características do espaço e da produtividade da área analisada, sobrevoando, também, locais de difícil acesso.
A tecnologia remota no setor agrícola
O uso de drones tem beneficiado muitos produtores rurais e empresas que possuem grandes fazendas com extensas áreas. Através de imagens de alta qualidade captadas durante o voo, esses equipamentos fornecem informações com precisão e de maneira muito rápida acerca de amplos espaços.
As imagens captadas por drones são processadas por softwares específicos, que fornecem as informações necessárias em relação à propriedade, otimizando o tempo e reduzindo os custos para os agricultores. Com os dados em mãos, é possível tomar decisões, fazer planejamento, controlar e aumentar a produtividade das áreas, conservando a saúde do solo e de toda a lavoura. Além da função de mapeamento e monitoramento, esses equipamentos têm sido utilizados para outras tarefas, a exemplo da aplicação de insumos nas plantações, como a pulverização e o emprego de controle biológico de pragas.
O trabalho de mapeamento e monitoramento no campo
Uma empresa que tem atuado nesse ramo é a AgriEntech, situada em São Carlos/SP. A startup é especializada na detecção de doenças e pragas em plantações utilizando drones.
Adolfo Posadas, pesquisador da área de física aplicada à agricultura e fundador do empreendimento, relata que a empresa surgiu a partir do desejo de investigar e resolver um problema muito comum na produção agrícola: o impacto de doenças letais.

Um dos primeiros projetos em que Posadas atuou frente à AgriEntech foi o de mapeamento da doença da laranja, a “Citrus Greening” (HLB), por meio de um sistema automatizado com drones e inteligência artificial. Tal técnica teve como objetivo a detecção desta bactéria na plantação, a fim de combatê-la. O físico ainda afirma que esse mesmo sistema também pode ser adaptado e utilizado em outras culturas, como a do algodão, da soja, do feijão e do milho.
Com a implementação dessa tecnologia nas lavouras, é possível alcançar vários resultados. Alguns exemplos são: precisão no combate de doenças, aumento da produtividade, melhora na qualidade do produto, otimização de tempo, redução de custos e, principalmente, mais sustentabilidade.
“O nosso foco principal é a sustentabilidade na agricultura, do ponto de vista do alimento que se produz e também do meio ambiente”, destaca Adolfo Posadas.
Como é feito o mapeamento por drone na agricultura?
O drone é lançado ao campo percorrendo toda a área determinada, sendo programado para ir e voltar com um plano de voo previamente definido. Todas as imagens são gravadas em alta resolução e depois processadas por um computador de alto desempenho e com softwares específicos. Através de inteligência artificial, estes analisam os materiais coletados, fornecendo informações sobre toda a área percorrida. A ferramenta provê dados precisos sobre cada planta, detectando quais são as doentes e quais são as saudáveis, além de apresentar as coordenadas específicas de cada uma por meio do georreferenciamento, proporcionando uma visão acurada da lavoura.

“Nós utilizamos essa ferramenta para a detecção de doenças, mas ela também pode ser utilizada para identificar e corrigir falhas de plantio, para monitorar o ciclo da cultura desde a semeadura até a colheita, além de avaliar o estado nutricional das plantas para aplicação de fertilizantes”, explica Posadas.
Diferentes voos para cada terreno
Os drones são veículos aéreos não tripulados que podem ser controlados de forma remota. Há um tipo específico para utilização em cada variedade de terreno a ser sobrevoado. José Otávio Bueno, doutorando em Engenharia Ambiental pela USP de São Carlos/SP, é o responsável pela realização dos voos da AgriEntech. Ele explica a diferença entre os dois principais modelos utilizados pela empresa: os multirotores e os de asa fixa.
O drone multirotor — que possui vários rotores — é empregado em áreas menores, por ter menos autonomia em relação a tempo de voo e altitude, contando com base para decolagem e aterrissagem. Já o drone de asa fixa, por ter maior autonomia, é adotado para sobrevoar grandes espaços e é lançado à mão, retornando ao solo através de um paraquedas acoplado ao dispositivo.


“O multirotor DJI Matrice 600, por exemplo, consegue percorrer aproximadamente 50 hectares por voo, sobrevoando dois hectares em torno de dois minutos, a uma altura de 50 metros. O Arator 5B (asa fixa) sobrevoa uma área de 100 hectares em torno de uma hora, podendo fazer voos em alturas maiores que um multirotor”, explica José Otávio.
Além disso, Robson Pereira, doutorando em Ciência da Computação, explica sobre o potencial das câmeras que fazem a captação das imagens e que fornecem praticamente um escaneamento da área monitorada. Segundo ele, esses equipamentos possuem sensores capazes de identificar e revelar informações do plantio que não são visíveis a olho nu. Um exemplo seria o das câmeras multiespectrais, as quais utilizam raios infravermelhos para detectar os dados mais detalhados da lavoura.

Essas características demonstram a rapidez e robustez dessa importante ferramenta no processo de mapeamento do campo. O trabalho de inspeção de plantações que antes era feito de forma subjetiva pelo ser humano, hoje pode ser executado pela tecnologia de forma rápida, objetiva e precisa.
Produtividade e sustentabilidade: vantagens e desafios do serviço
Para a obtenção precisa dos dados, é necessário o importante e valioso auxílio da inteligência artificial. André Lourenço, doutor em Engenharia da Computação e sócio da empresa, explica que a AgriEntech faz o processamento do material utilizando o método de redes neurais, o qual, por meio de um modelo matemático, serve para reconhecer padrões. Dessa maneira, é possível identificar doenças na lavoura através das imagens coletadas. Ainda, de acordo com o engenheiro, a grande tarefa de tal serviço é a organização das informações obtidas por meio dos drones, para a devida análise.
“O maior desafio é a organização de todos os dados para o processamento. O nosso foco é em cima dos dados e da sua qualidade, buscando sempre a validação a partir da ida ao campo, além da nossa busca constante na literatura científica para adaptar nossas tecnologias”, destaca Lourenço.
Adicionalmente, o sócio explica que a aplicação localizada feita por drone ainda enfrenta algumas limitações. Todavia, essa prática tem avançado e é algo que se beneficiará significativamente a partir do trabalho da AgriEntech. “Esses equipamentos de aplicações localizadas precisam muito das informações prévias dos focos de doenças e de deficiência nutricional das plantas para aplicar os fertilizantes e os agrodefensivos. Futuramente, será bem interessante essa integração da informação geolocalizada que nós fornecemos e a detecção dos problemas com a aplicação localizada”, finaliza André.
Muitas são as vantagens que as técnicas de mapeamento e monitoramento rural por drones podem trazer às áreas produtoras. Cada vez mais essas tecnologias têm avançado e proporcionado um custo-benefício mais vantajoso ao agricultor, contribuindo para o processo produtivo. Além disso, tratam-se de inovações que promovem o desenvolvimento sustentável, levando sempre em consideração a conservação do meio ambiente.
Então, vale a pena ficar de olho em empresas verdadeiramente capacitadas em fornecer um serviço confiável, responsável e técnico, a fim de obter grandes resultados na lavoura através de tecnologias de ponta.
