Por muito tempo, revistas impressas foram consideradas relíquias de um passado analógico. Lentas, caras e supostamente ultrapassadas, cederam espaço a telas infinitas e conteúdo digital em tempo real. Mas em 2025, um movimento inesperado virou o jogo: as bancas estão novamente em alta, e o impresso conquistou um novo status — o de item desejado.
Por Alexandre Marques
Hoje, revistas não competem com o digital. Elas oferecem exatamente o que ele não entrega: tempo, tato, presença e foco. Como afirma o publicitário Nizan Guanaes:
“O que temos que compreender sobre o futuro é: onde estiver todo mundo indo, não vá. Quando o mundo faz ‘zigue’, precisamos fazer ‘zague’.”
O papel ganhou novas camadas de valor. Em vez de serem apenas veículos de informação, as revistas passaram a ocupar também o lugar do design, da arte e da memória. São pensadas para serem exibidas, colecionadas e sentidas — como um bom livro de capa dura ou um disco de vinil.
Na era em que tudo é por assinatura e nada é de fato seu, o impresso devolve ao consumidor o prazer da posse. As pessoas querem voltar a ter, não só acessar, sintetiza os estudos atuais que analisam o comportamento de consumo atual.
Segundo uma pesquisa da PwC, 92% do mercado editorial brasileiro em 2023 ainda foi dominado por livros físicos. E o mais impressionante: 64% das pessoas afirmaram preferir ler no papel — quase o dobro do registrado em 2021.
Essa mudança não passa despercebida pelas marcas. Só nos EUA, mais de 70 novas revistas impressas foram lançadas em 2025 — um número superior ao do período pré-pandemia. Capricho, Nylon, Saveur, Vice e outras voltaram à ativa com edições sofisticadas e distribuição limitada.
O impresso atual é multiplataforma. Uma edição física pode se transformar em episódio de podcast, teaser em vídeo, evento presencial ou ensaio fotográfico em exposição. As revistas viraram hubs criativos com desdobramentos digitais — e não o contrário.
Além disso, no ambiente físico, a publicidade ganha uma vantagem competitiva: sem distrações de mil notificações, o anúncio permanece visível, elegante e revisitado ao longo da leitura. É menos intrusivo e mais memorável.
Na avalanche de estímulos digitais, as revistas oferecem direção. São curadorias intencionais em vez de algoritmos. Seus temas são escolhidos com cuidado, sua diagramação convida ao mergulho e sua leitura exige presença — algo cada vez mais raro.
A volta das revistas impressas não é um simples revival nostálgico. É uma resposta clara ao cansaço do digital e uma revalorização da experiência tátil, da estética e da atenção plena. E talvez a próxima grande ideia não seja um viral de 15 segundos, mas uma capa que você vai querer guardar por anos.
“A revista impressa vai voltar com tudo.”
Nizan Guanaes
