Por Emerson Luchesi
A tecnologia tem progressivamente dominado as atividades do campo. Mais do que otimizar e automatizar tarefas executadas pelos seres humanos, as novas soluções tecnológicas têm surgido de modo a aumentar a produtividade e promover a sustentabilidade e o crescimento econômico nas áreas rurais. Assim, estando cada vez mais aberta a essas ferramentas, a agricultura tem se mostrado um solo fértil para o desenvolvimento e aprimoramento tecnológico, resultando em grandes inovações.

E tais inovações também englobam a gestão responsável dos recursos hídricos, tão indispensáveis para o campo. Utilizar este recurso natural finito e precioso que é a água evitando o desperdício e valorizando esse bem é uma preocupação sempre mais presente. Por conta disso, muitos métodos e iniciativas têm se destacado visando estabelecer técnicas sustentáveis, inteligentes e eficazes em atividades que envolvem os recursos hídricos.
Esse é o caso das novas práticas de irrigação inteligente, como as realizadas pela Pitaya Irrigação, uma empresa são-carlense que atua há quatro anos no ramo, voltando-se tanto à agricultura de pequeno e grande porte quanto ao mercado doméstico.
Eficiência, precisão e sustentabilidade no manejo da irrigação
A Pitaya alia tecnologia, inteligência e eficiência na rega de plantas, jardins, estufas e lavouras, promovendo precisão e economia no processo de irrigação. Para entendermos um pouco mais sobre os produtos e serviços oferecidos pelo negócio, conversamos com Juliana Polizel, engenheira ambiental pela USP de São Carlos (SP) e CEO da empresa.
Segundo a engenheira, o empreendimento surgiu a partir da concepção de um sensor de umidade do solo que mede a quantidade ideal de água para as plantas – uma inovação tecnológica desenvolvida pela Embrapa Instrumentação de São Carlos/SP. Assim, o objetivo foi levar essa tecnologia para o campo, para o mercado, através de uma empresa específica.
“A Pitaya Irrigação vai desde o sensor até a parte digital dele, então, é muita tecnologia. E estamos falando de uma inovação que tem patente, que é o sensor de solo. Além disso, nós investimos muito em como usar isso em campo, como ser fácil, acessível e entregar o máximo de resultado possível”, destacou a CEO.
Esse sensor tem 10 anos, e a Pitaya o leva para uso em campo há 4 anos, testando e fabricando os produtos. “Além do sensor de solo, tem software, hardware, automação e produtos específicos que foram desenvolvidos para irrigação automatizada e, também, para saber o quanto se precisa de água no processo para fazer a irrigação localizada”, comentou Juliana.

As soluções da Pitaya são para quem tem plantas em casa, jardins e até extensas lavouras. Ou seja, a tecnologia da empresa atende da irrigação doméstica àquela em grandes plantações. No caso de plantas domésticas, existe a dificuldade em saber em que momento a planta realmente necessita de água e qual a quantidade ideal. Na dúvida, muitas vezes se realiza a rega todos os dias e em grandes quantidades. Isso também acontece no agronegócio, o que pode gerar muito desperdício e até mesmo malefício às plantas.
“O trabalho que fazemos é dosar essa água no momento e na quantidade certa. Em alguns locais, passamos a irrigar uma vez por mês ao invés de irrigar todos os dias. Isso já aconteceu em culturas como de café. Então, existe uma grande diferença entre você dosar e irrigar sem saber. Isto gera desperdício de água, de energia e de nutrientes, o que acaba prejudicando o solo e a cultura. Então, a ideia é saber irrigar somente o necessário”, elucidou Polizel.
A engenheira ambiental também destacou que a principal tecnologia que a empresa utiliza é a Internet das Coisas (IoT). E como isso funciona? Os dados do solo são coletados para a tomada de decisão, de forma a automatizar o processo de irrigação. “Temos a solução digital sem fio que salva os dados em nuvem. Desse modo, o usuário acessa os dados através de uma página da web e, depois, nós criamos históricos com esses dados e eles são usados diariamente para tomada de decisão. Então isso é, em teoria, a inovação que se chama IoT”, explicou a CEO.
Para a coleta dos dados, a empresa conta com a tecnologia de sensores de cerâmica desenvolvida pela Embrapa, sendo que a Pitaya tem um convênio para produzir a solução. O sensor que se conecta diretamente ao solo determina a quantidade ideal de água a ser utilizada no processo de irrigação. Tal dispositivo possui alta durabilidade, é extremamente preciso e pode ser adotado em diferentes culturas, solos e climas, auxiliando no uso sustentável da água.
“Nós desenvolvemos também o Irrigafácil, que é um produto sem IoT, que opera a irrigação de forma automática com base no sensor de solo, porém não gera dados e é um equipamento com fio”, ressaltou a engenheira ambiental.
Uso racional, inteligente, eficiente e preciso da água
Com tecnologia de ponta, o objetivo principal da irrigação inteligente é, portanto, fornecer água no momento certo e na quantidade adequada para as plantas. Isso através de uma técnica que utiliza dados para que a atividade seja feita com precisão, eficiência e de forma localizada, gerando economia de água e de energia elétrica, ou seja, aumentando a produtividade e evitando o desperdício. Assim, segundo Juliana, a irrigação inteligente é mais que inteligente, ela é eficiente, porque muitas soluções têm inteligência, porém não são eficazes.
“No nosso caso, o foco é ser eficiente. E o que isso significa? Que tudo o que nós fazemos é com foco em dar o retorno para o agricultor. Dessa forma, ele vai produzir mais, com muita economia. E a irrigação eficiente precisa acontecer até mesmo por conta das mudanças climáticas e do aumento da produção de alimentos. Por esse motivo é que nós chamamos Pitaya Irrigação. Nós queremos levar frutos, queremos que a agricultura tenha mais produtividade”, ressalta a CEO.

A engenheira ambiental pondera que, hoje em dia, não existe mais estabilidade do clima em várias regiões. Por isso, a água pode faltar em muitos momentos. Nesse sentido, dosar esse recurso em todas as localidades, fazendas e lavouras é crucial para o futuro. A irrigação é uma prática já tratada como eficiente e sustentável, desde que seja otimizada e promova economia, uma vez que a água gera vida e contribui para a produção de alimentos.
Assim, regar com precisão e eficiência é muito mais vantajoso do que se utilizar a prática comum, a qual, além de ser mais cara, gera desperdícios. Juliana explica que, para uma área ser irrigada de forma convencional, existe um investimento muito grande, o qual envolve a compra de uma série de equipamentos e materiais, como bomba, válvula e tubulação. Tais projetos podem chegar a 20.000 reais por hectare.
“Uma vez que você irriga uma área, você precisa controlar o sistema para fazer isso da melhor forma possível. E, atualmente, como é feita a operação desses sistemas de alto custo? É feita sem dados, é aleatória, é de acordo com a experiência. Então, a grande maioria dos casos é olhando para o céu, isso sem nenhum dado a serviço para saber se precisa ou não irrigar. E os dados que existem muitas vezes são imprecisos e nem sempre são os melhores para a tomada de decisão, como os climáticos”, revelou a CEO.
Ainda acerca das informações obtidas sem precisão, Juliana explica que não adianta olhar para um ambiente e tomar a decisão quanto a outro. “O solo é um ambiente, um tipo de material; a atmosfera é um outro tipo de ambiente. Então, o que está acontecendo na atmosfera muitas vezes não é o que está acontecendo no solo. Por isso a importância de olhar os dados do solo em profundidade, próximo às raízes, a fim de saber o que de fato está acontecendo nele para, a partir disso, tomar uma decisão em relação à irrigação”, ressaltou Juliana.
Dessa maneira, a tecnologia empregada na prática da irrigação inteligente visa trazer esses dados importantes e precisos para que se tome a decisão se a rega pode acontecer e quando. Ainda, tal solução objetiva tornar a atividade mais acessível, com produtos fáceis de instalar e manusear.
Investindo em otimização, economia, sustentabilidade e produtividade
De acordo com Polizel, a prática da irrigação eficiente é acessível e não há contraindicação. Ela também enfatiza que não se trata de um custo, mas sim de um investimento, por aumentar a produtividade. “No agro, é comum a tecnologia que é levada entregar 20 vezes o valor que foi investido. Então, quando você leva a tecnologia, são altos os ganhos possíveis. Se o produtor entender isso, ele não verá como um custo de aquisição, e sim como um investimento”, comentou.

Adicionalmente, a irrigação inteligente contribui direta e indiretamente para o desenvolvimento sustentável. Isso porque, além de dobrar ou triplicar a produtividade de uma lavoura, como da soja e do café, a irrigação eficiente possibilita que se produza muito mais em menos espaço, ou seja, pode-se aumentar a produção mantendo-se mais ecossistemas e áreas preservadas. Desse modo, essa prática reduz o desmatamento e ainda sequestra carbono, entre outras vantagens.
Tal técnica também significa multiplicação de renda. “Existe uma questão social, a irrigação leva desenvolvimento para uma região”, destacou Juliana. “Sem dúvida, é uma prática muito bem-vinda, se for feita de forma adequada”, completou.
Em contrapartida, se realizada sem cuidados, a irrigação pode prejudicar o solo, a planta e o ambiente. Ademais, segundo a engenheira, uma irrigação com vazamentos e que opere sem eficiência pode prejudicar e esgotar os reservatórios de água, causando a falta desse recurso em momentos de mais necessidade. “Assim, o nosso negócio é exatamente nesse sentido, saber fazer a irrigação da melhor forma possível para colher benefícios tanto ambientais quanto na produção de alimentos”, ressaltou.
Produtos para o mercado doméstico
Além dos produtos destinados aos agricultores de grandes e pequenas plantações, a Pitaya também oferece soluções de uso doméstico, para quem tem plantas em recipientes, canteiros e jardins. O Rega Vaso, por exemplo, é um produto que irriga de forma automática um vaso por vez. Já o Irrigafácil controla um setor, uma pequena área de jardim, assim como uma estufa, podendo ser utilizado de maneira doméstica, além de por pequenos produtores.
Esses dispositivos também são interessantes para empresas de variados segmentos.“Condomínios, shoppings e diversos outros locais que têm jardins e se preocupam com a manutenção e em deixá-los bonitos também podem utilizar a tecnologia da irrigação eficiente, de forma a dosar a quantidade de água necessária para aquela área”, explicou a CEO.
Sendo assim, a prática da irrigação inteligente e eficiente evita o desperdício de água, energia e nutrientes, contribuindo para o aumento da produtividade. Ainda, a rega pode ser total ou parcialmente automática, o que simplifica muito o dia a dia do agricultor ou daquelas pessoas que cultivam suas plantas e/ou hortaliças de forma doméstica. Desse modo, com essa tecnologia de ponta, é possível facilitar o processo de irrigação, otimizando o uso de água e contribuindo para um planeta mais sustentável.