Por Emerson Luchesi
Atualmente é possível perceber a crescente busca por ajuda psicológica em uma geração que tem vivido num mundo fluido, acelerado, cheio de grandes desafios e imersa em uma cultura de grandes mudanças. Assim, a saúde mental acaba sendo uma questão importante para se preocupar e cuidar.
Vivemos em um mundo moderno que nos garante o acesso fácil à informação, à orientação, aos atendimentos em diferentes modalidades e a uma busca constante por diagnóstico e tratamentos que nos assegure bem-estar, seja qual for o problema de saúde que nos aflige. Os cuidados com a saúde mental vêm crescendo bastante nos últimos anos e isso revela uma grande preocupação com as questões mentais que antigamente eram tão ignoradas e negligenciadas.

Observa-se que a sociedade atual tem buscado a patologização da existência, que está relacionada à busca constante por diagnóstico para questões que imaginamos ser um transtorno ou doença quando, na verdade, em muitos casos, não é. A tristeza, por exemplo, não é sinônimo de depressão, o estresse não quer dizer que você tenha transtorno de bipolaridade e assim por diante.
Essa procura por ajuda da medicina no combate dos sofrimentos e dificuldades que passamos ocorre principalmente a nível emocional e psíquico, justamente por não conseguirmos lidar com certos sentimentos e emoções que desencadeiam-se através de acontecimentos e situações do cotidiano ou de eventuais transtornos que podemos desenvolver ao longo da vida.
Segundo Caio Nascimento, psicoterapeuta e neuropsicólogo, os transtornos mentais existem e são observados pelos sintomas, mas sobretudo pelos prejuízos causados na vida das pessoas. Contudo, muitas pessoas entendem que os transtornos basicamente estão presentes em tudo, e na verdade não é bem assim.
O profissional explica que se compreende como funcionamento saudável de um ser humano a possibilidade de se transitar entre o espectro das nossas emoções de uma maneira flexível. “Temos tanto a capacidade de nos entristecer contextualmente a partir de situações que demandam aquele tipo de emoção, quanto a possibilidade de nos alegrar dentro de situações que também sejam contextuais para isso.
O que acontece é que por essa cultura de uma positividade acima de tudo, as pessoas acham que já não é mais viável a pessoa se entristecer, viver os seus lutos por um determinado tempo e se sentir desmotivada de tempos em tempos. As pessoas então entendem que a vida, quando está fora do espectro da alegria e da felicidade, é um adoecimento e que esse sofrimento por si só já é o sintoma de um adoecimento”, explica.
“A patologização da normalidade é a compreensão de que a gente precisa estar o tempo inteiro feliz, alegre, grato e que esse trânsito para um espectro mais problemático e mais exigente das emoções necessariamente seria algum tipo de adoecimento. O prejuízo disso é que achamos que devemos medicar tudo, que temos que tratar tudo e que temos que ter à mão algum instrumento para dissipar todo sofrimento que de vez em quando acontece na vida de absolutamente todo ser humano”, destaca o psicoterapeuta.
Um olhar mais atento à saúde mental
Esse tipo de olhar para as questões mentais e a visão mais natural da busca por algum tipo de terapia têm gerado um aumento expressivo nos últimos anos na procura por profissionais psicoterapeutas.
O cenário crescente por terapia tem evidenciado um choque geracional e mostra cada vez mais a transformação do comportamento no ambiente familiar. Vemos como os pais estão preocupados em falar a respeito de sentimentos, de saúde mental, sexualidade e diversos outros temas com os próprios filhos. Provavelmente você já se deparou com situações que exigiram um apoio ou uma conversa objetiva com seu filho(a), sobrinho(a) ou alguém próximo a respeito de questões delicadas da vida que muitas vezes são tão difíceis de serem abordadas no ambiente familiar, até mesmo os mais jovens já se veem na liberdade de conversar com os pais a respeito de relacionamentos, sentimentos e questões relacionadas à sexualidade.

“A geração mais antiga foi criada em uma época onde havia um certo receio a respeito de levar questões relacionadas à saúde mental para uma sala de psicoterapia com um profissional que, mesmo treinado para aquilo, era basicamente um estranho. Ainda hoje é visto como um estranho, mas essa visão já vem mudando”, ressalta o profissional.
O psicoterapeuta também destaca que hoje já se tem mais noção, culturalmente falando, da importância desse tipo de cuidado, “os pais já enxergam a importância de terapia desde estágios mais precoces da vida dos filhos e eles não só estão querendo cuidar da própria saúde mental como também estão pensando um pouco mais em cuidar da saúde mental dos filhos”, comenta.
TERAPIA ON-LINE, uma maneira mais prática e acessível
Um grande marco para a crescente busca por tratamento psicológico foi o momento desafiador surgido em 2020: a pandemia da Covid-19. Bem se sabe que ela impactou nossas vidas de uma forma avassaladora, jamais se imaginou que viveríamos uma pandemia nessas proporções e que os impactos gerados por ela afetariam tanto o nosso cotidiano. O isolamento social, a mudança de rotina, a perda de pessoas queridas foram alguns dos fatores que afetaram diretamente e abruptamente a vida e a saúde mental de bilhões de pessoas.
Diante de tantas mudanças repentinas e situações tão desmotivadoras, a saúde mental foi diretamente abalada e despertou maior atenção para a busca de cuidados. Mas como buscar tratamento terapêutico durante uma crise sanitária? Foi nesse período crítico que aumentaram exponencialmente os atendimentos on-line. Com a ajuda da internet e da tecnologia presente nos lares foi possível proporcionar, àqueles que necessitavam, um atendimento terapêutico à distância.
Alinhadas a necessidade com a facilidade que a tecnologia nos proporciona, foi possível a busca por ajuda e o resultado disso ainda se reflete nos dias atuais, onde muitas e muitas pessoas mantêm ou aderem à terapia on-line e muitos profissionais têm optado por realizar seus atendimentos apenas dessa forma.
A busca pela terapia on-line aumentou drasticamente devido aos sentimentos causados pelo isolamento social, o medo de se contaminar, o medo da morte, o medo do desconhecido, a solidão, a angústia e o sentimento de luto despertaram a necessidade de se buscar, mesmo que à distância, a ajuda de profissionais da psicologia através da psicoterapia.
Tendo em vista a facilidade e as vantagens desse tipo de atendimento, a tendência da terapia on-line ainda se mantém mesmo depois da estabilidade da crise sanitária, sendo uma modalidade que veio para ficar. As psicoterapias on-line já existem há um bom tempo e são normatizadas no Brasil. Contudo, tornou-se muito mais comum há mais de dois anos devido à pandemia. “Houve, porém, uma certa resistência pelo fato de se ter uma ideia fixa da presencialidade nas consultas, de estar no consultório frente a frente com o profissional, no entanto, essa visão já está sendo superada”, conta o psicoterapeuta.
O profissional comenta que a psicoterapia on-line tem sido muito bem relacionada com a psicoterapia presencial, não havendo grandes diferenças em termos de benefícios. A grande dificuldade, segundo ele, foi fazer a adaptação dos indivíduos à quebra dessa ideia de que não havia mais a necessidade de sair de casa para se encontrar com o psicólogo.

Josy Andrade, psicóloga clínica, conta que depois da pandemia passou a realizar os atendimentos apenas de forma on-line e hoje não sente necessidade de retornar ao presencial. “Meu público é exclusivamente feminino, trabalho com a saúde mental da mulher e todas as minhas pacientes se conectam muito bem, se sentem muito bem e muito à vontade no atendimento on-line. O que também influencia no bem-estar desse processo é a relação de confiança entre o paciente e o psicoterapeuta”, salienta Josy.
Sobre as vantagens do atendimento on-line, os psicólogos comentam que estar em casa é estar em seu espaço de segurança, o que faz com que a pessoa fique mais à vontade e o paciente acaba se sentindo mais confortável, desde que ele tenha em sua casa um espaço para ficar sozinho e conversar.
A terapia on-line proporciona mais praticidade e comodidade reduzindo custos e tempo de deslocamento.
Entretanto, há alguns fatores que precisam ser avaliados quando se adere à modalidade on-line e um deles é a necessidade de se estar em um ambiente individual, confortável e com privacidade para poder conversar. “A terapia on-line não pode ser feita em qualquer lugar, o paciente precisa de um espaço com total privacidade”, destaca a psicóloga.
Segundo a psicóloga, a terapia on-line ainda não contempla todo mundo e por isso veio para complementar e facilitar o acesso a esse tipo de tratamento. Talvez chegue um momento em que a terapia on-line se sobreponha ao presencial, e muito provavelmente os profissionais que só atuam no presencial precisarão aderir também à forma de atendimento on-line dividindo a assistência terapêutica nessas duas modalidades, todavia, o atendimento presencial sempre existirá e atenderá as pessoas que se sentem melhor e optam por esse tipo de atendimento. “A terapia é para todo mundo, porém cada um precisa entender o que vai funcionar para si, qual a melhor maneira de buscar a terapia”,finaliza a profissional.