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Saúde financeira entre gerações

Cenário econômico e tecnologias digitais têm influenciado no comportamento financeiro dos mais jovens

Por Emerson Luchesi

Lidar com dinheiro nunca foi uma tarefa fácil.

Ter controle das contas, administrar os ganhos, pensar onde gastar… tudo isso exige estudo, análise e, se possível, o auxílio de um profissional. Com outras prioridades, as gerações mais novas têm mudado o comportamento em relação às finanças, e a tecnologia vem exercendo um papel muito importante nesse processo. 

Se antes o gerenciamento das receitas e despesas se baseava exclusivamente no manuseio do dinheiro físico ou de cheques, a geração atual (Z) está imersa em um mundo cada vez mais digital, diferentemente das experiências das gerações anteriores. Neste cenário, também se modificaram os tipos de investimento, sendo que os mais jovens têm investido em novas modalidades, sobretudo em tecnologias, almejando a tão sonhada estabilidade financeira.

Há algumas décadas, a geração X (nascidos entre 1965 e 1981)* e parte da geração Y (1982 a 1994) investiam majoritariamente em bens palpáveis, como imóveis, apartamentos e casas. Atualmente, com a era digital, a geração Z (nascidos entre 1995 e 2010), dos chamados “nativos digitais”, tem mirado seus investimentos em novos alvos proporcionados principalmente pela internet, como as criptomoedas. Assim, atraídos por inúmeras possibilidades de investimentos, é cada vez mais necessário falar sobre saúde financeira entre os mais jovens.

Uma mulher jovem sorridente segurando um tablet
Créditos: Freepik

Isso porque, mesmo com o passar de épocas, cuidar das finanças ainda é imprescindível para se viver bem, sem preocupação e sem dívidas. Para isso, é essencial administrar as economias de maneira responsável e investir corretamente, sabendo como e de que modo aplicar os recursos de forma segura e vantajosa. E a educação financeira tem um papel primordial no alcance desses objetivos.

Para entender um pouco mais sobre o comportamento financeiro ao longo do tempo e o que tem mudado no campo das aplicações, conversamos com Igor Carvalho, que é assessor de investimentos. Ele nos contou um pouco sobre o cenário econômico entre as gerações e como isso influencia na gestão das finanças.

Mas, primeiramente, o que é saúde financeira? 

A saúde financeira está relacionada a um indivíduo ou família que consegue gerenciar de maneira eficiente e equilibrada as receitas e as despesas. “Saber administrar as finanças é ter saúde financeira. Não quer dizer que o indivíduo ou família tem muito dinheiro, mas sim que sabe administrar as contas”, ressalta Igor Carvalho.

Nas décadas de 80 e 90, segundo o profissional, a principal palavra que destacava o cenário de saúde financeira era a estabilidade. “Antes do Plano Real, chegamos à inflação de 1000% no Brasil, então era muito difícil ter aplicações financeiras, dinheiro mesmo, assim o imóvel trazia uma coisa mais factível, algo que de fato existe ali e que acompanhava de um certo modo essa inflação. E, culturalmente, o imóvel tinha muito mais valor naquela geração que tinha o costume de investir em coisas com um lastro muito mais real”, revela.

“Depois do Plano Real, em 1994, eu acho que a estabilidade da moeda, da inflação e dos juros trouxe um pouco mais previsibilidade, uma palavra importante para conseguir começar a investir de maneira mais eficiente no mercado financeiro e não só em imóveis, não só em coisas lastreadas, de fato físicas”, continuou.

O comportamento financeiro dos jovens

Atualmente, a conduta financeira tem mudado e outros rumos para investimento têm surgido e conquistado os mais jovens. Segundo Igor, a atual geração tem um comportamento muito imediatista, não só na área financeira, procurando ganhos bem mais rápidos com opções que, às vezes, não são necessariamente seguras. 

“Nós vemos um mercado que traz muito isso e que está muito na moda em rede social (que é onde se consome muito conteúdo financeiro): são as criptomoedas. Não é muito por essa questão do ganho rápido, e normalmente só se fala da parte de quando ganha e não quando se perde, mas a geração Z tem estado muito ávida a esse tipo de investimento, em criptomoedas, principalmente” destaca Igor.

Carvalho também pontuou que, depois que as pessoas estudam um pouco mais – tendo assessoria ou sozinhas –, elas começam a entender que uma carteira de investimentos precisa ser diversificada, englobando produtos como os de renda fixa, variável e previdência privada. Todavia, ele ressalta que a porta de entrada da geração Z tem sido realmente as criptomoedas.

Três pessoas jovens trabalhando.
Créditos: Freepik

Para o assessor, a tecnologia tem influenciado totalmente no comportamento financeiro da geração atual, não só no que tange à obtenção de informações, mas também ao acesso a investimentos. “Na década de 2000 até 2010, se eu soubesse o que fazer, eu não tinha como acessar algumas coisas, ou eu tinha que ter muito recurso financeiro para conseguir acessar através de um banco de investimento, mas hoje está muito mais democrático. Qualquer pessoa com 100 reais consegue abrir uma conta no Tesouro Direto e começar a investir. Então, a tecnologia trouxe o acesso à informação e o acesso, de fato, ao investimento”, comenta.

Igor destaca que hoje o assunto “dinheiro” é mais comumente discutido, sendo bom falarmos o quanto estamos ganhando, o quanto nós conseguimos poupar, como é que estamos guardando o nosso dinheiro, pois isso traz o assunto à tona. E a tecnologia tem um grande papel nesse sentido, que é o de fornecer a informação, oferecendo inúmeras oportunidades e maneiras de investir, o que tem contribuído para que os jovens invistam mais. No entanto, isso também pode ser complicado, devido ao volume de dados e fontes: “O problema não é o acesso à informação, e sim filtrar o que há de correto e benéfico nesse mar de conteúdos que a tecnologia nos traz “, ressalta.

Assim, a internet costuma ser o primeiro lugar no qual as pessoas procuram se inteirar sobre educação financeira e investimentos. Contudo, identificar o que é confiável e relevante certamente é um grande desafio. Diante desse cenário, a ajuda de um consultor financeiro pode ser proveitosa. Isso porque, segundo Igor, o profissional pode dar orientações, bem como indicar onde buscar informação de qualidade, tanto para a administração das contas quanto para possíveis investimentos.

“É sempre importante procurar um assessor de investimento ou um consultor financeiro para ajudar, fazer uma análise, uma consultoria focada nas finanças pessoais. Nós temos que gastar o que sobra depois de investir e não investir o que sobrar depois de gastar. A ideia é de fato tentar ter metas e muita disciplina, pois a disciplina é muito importante dentro desse cenário e, claro, usar a tecnologia a nosso favor”, destaca.

Ao comentar sobre o que tem levado as pessoas a terem uma relação mais ativa com o dinheiro, o assessor afirma que é exatamente uma questão cultural. Ou seja, o fato de as pessoas estarem conseguindo lidar de uma maneira mais tranquila e com mais acessibilidade aos meios de investimento. Além disso, com o atual cenário econômico, investir acaba se tornando uma necessidade.

“Hoje a nossa geração (os millennials, ou geração Y) e a geração Z estão tendo muito mais dificuldade para comprar seu primeiro imóvel, conseguir se sustentar, criar a família, porque o custo de vida está muito mais caro. E isso é um problema muito mais latente para conversarmos sobre como fazer para investir. Investir antigamente era um luxo, hoje é uma necessidade. Então essa questão está muito mais vívida nesta geração [Z] do que na passada”, salienta.

Desse modo, mediante o cenário econômico vigente e a forte influência que a tecnologia exerce na geração atual, é cada vez mais desafiador estabelecer o controle das finanças e ter a saúde financeira em dia. Por isso é importante falar sobre educação financeira especialmente a esse grupo mais jovem, para que haja uma boa gestão dos recursos, sendo possível, assim, investir de forma segura, sobretudo nesta era digital.

Para o profissional, isso engloba mais do que o aspecto econômico, pois o ser humano precisa de estabilidade e previsibilidade até para criar novos planos e realizar sonhos. “Eu acredito muito que um pilar da saúde mental e emocional é a saúde financeira. Eu acho que não ter o controle sobre as finanças gera ansiedade. Isso nos deixa travados para conseguir resolver outras coisas que envolvem a vida, como a parte física, a alimentação, a parte emocional etc.”, opina.

Assim, é evidente que a geração atual tem enfrentado dificuldades para ter saúde financeira. Isso, como mencionado, ocorre por diversos fatores, entre eles: o custo de vida cada vez mais alto; a falta de disciplina no cuidado com as finanças; e o insuficiente conhecimento sobre investimentos.

“Acredito que nós estamos passando por uma geração imediatista, que tem um pouco de dificuldade em ter disciplina. E não só o fato de ter que ter disciplina, mas também de conseguir fazer sobrar dinheiro no final do mês, o que é cada vez mais difícil, pois vivemos em um mundo muito mais caro, de aluguéis mais elevados, de alimentação e educação mais cara. É possível comparar isso vendo o que nossos pais faziam com o que eles ganhavam quando tinham a nossa idade e o que nós conseguimos fazer hoje com o  dinheiro que ganhamos”, destaca o profissional.

Controle das finanças e investimento seguro

Igor Carvalho deu algumas dicas básicas para o gerenciamento das finanças e para quem pensa em investir. Segundo ele, o primeiro passo é ter controle, saber quanto é o gasto mensal, quanto é necessário para viver o básico e quanto é preciso para poder realizar os sonhos. Tudo isso levando em conta todo o cenário financeiro do indivíduo ou da família. 

O profissional também comenta que o uso desenfreado do cartão de crédito tem certa culpa no descontrole financeiro, pois utilizar esse recurso e pagar só no final da fatura acaba sendo mais cômodo. Entretanto, quando conseguimos pagar no Pix ou no débito, é possível termos mais domínio do dinheiro que está saindo, resultando em uma melhor gestão. 

Um homem trabalhando no laptop enquanto o filho o abraça.
Créditos: Freepik

“O primeiro passo é saber controlar os meus gastos, assim eu vou conseguir entender o que eu posso guardar de dinheiro e a partir desse momento eu posso investir. Então investir é um segundo passo. E quando se vai para o investimento, eu sempre gosto de falar para os iniciantes que querem fazer sozinhos esse processo que hoje nós temos a plataforma do Tesouro Direto, que é supersimples, de graça, superfácil e traz uma grande rentabilidade dentro do cenário que nós vivemos hoje, do que os grandes bancos oferecem”, pontua.

“Lá tem todas as dicas com explicações e tem até uma parte educacional. E, por ser do governo, tem algum tipo de credibilidade, o que é bem interessante. Mas, eu acredito que, principalmente, é controlar os gastos e saber o que se está gastando”, acrescenta.

Então, é preciso ter controle e disciplina para depois pensar em investimento. E, se possível, é interessante ser orientado por um profissional capacitado, levando em consideração a realidade econômica de cada pessoa. Por fim, vale destacar que a educação financeira é um dos mais básicos e importantes investimentos, com retorno garantido à saúde das finanças.

*É importante ressaltar que não há unanimidade quanto à definição do período exato que engloba cada geração.

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