Por Emerson Luchesi
Pensar e colocar em prática ações alinhadas à sustentabilidade, à responsabilidade social e ética na gestão não é só uma tendência, é uma necessidade cada vez mais urgente para o mercado empresarial. Instituições de todos os portes devem estar atentas aos princípios sustentáveis, buscando não somente a lucratividade, mas também a transparência nos negócios, a responsabilidade administrativa e o cuidado do planeta e do ser humano, tão relevantes nos dias atuais.

Para tanto, destacam-se as práticas de ESG, sigla em inglês que significa “Environmental, Social and Governance” e traduzida ao português como “Ambiental, Social e Governança”. O conceito já é bem conhecido no meio corporativo, fazendo parte dos objetivos estratégicos de muitas empresas e estimulando o desenvolvimento de uma nova cultura organizacional. Ele diz respeito a um conjunto de boas práticas nas quais os empreendimentos podem e devem investir e tem como base três pilares: ambiental, social e governança corporativa.
O termo apareceu primeiramente em 2004, quando o ex-secretário geral da ONU, Kofi Annan, convidou CEOs das principais empresas do mundo a participarem de um pacto global, a fim de refletir sobre iniciativas que envolvessem esses três fundamentos.
Importância das práticas ESG nas empresas
Caio Della Giustina, antropólogo, gestor ambiental, mestre em desenvolvimento sustentável e consultor de sustentabilidade, nos explica um pouco mais sobre esse relevante conceito. Segundo ele, os pilares de ESG trabalham separadamente, cada um com sua área temática. Todavia, com a junção desse tripé e um bom planejamento, pode haver uma gestão muito mais rebuscada e atenta das empresas, visando, ainda, a perenidade de seus negócios.
“Quando tratamos sobre o pilar ambiental, podemos pensar em questões como energia limpa e renovável, biodiversidade, preservação da água, do ar etc. Na área social, podemos citar o respeito aos direitos humanos, às leis trabalhistas, a diversidade e inclusão e a capacitação dos colaboradores. E, no pilar da governança, englobam-se questões relacionadas à transparência e combate à corrupção”, explica o profissional.

Caio comenta que ESG ainda é um conceito em debate, não tendo uma definição muito precisa. Nesse sentido, as pessoas seguem entendendo os meios e os caminhos para se trabalhar dentro das temáticas que envolvem o assunto. Ele pontua e explica que o conceito é diferente do de sustentabilidade. ESG certamente está associado a essa questão, porém também envolve outros aspectos, sendo direcionado ao ambiente empresarial.
“Quando se fala sobre sustentabilidade, pensamos justamente que todos podem contribuir para um futuro mais sustentável. Isso significa que todos nós podemos mudar nossa forma de pensar e agir, andando menos de carro, usando mais bicicleta e transporte público, entre outras iniciativas. Em suma, ela é para todo mundo, enquanto as questões de ESG são mais específicas. Estas são, antes de tudo, para que empresas possam pensar a sustentabilidade alinhada a direitos humanos, governança e transparência”, explica.
“Falar sobre ESG é falar sobre uma agenda de sustentabilidade dentro do meio corporativo”, destaca o profissional.
Vantagens das ações ESG
Muitas são as vantagens proporcionadas pela adoção das práticas de ESG nas grandes, médias e pequenas empresas, como ganhos relacionados à reputação e à perenidade dos negócios. “Aplicar ESG é ser mais competitivo, é estar mais atento ao seu próprio negócio, tendo uma visão mais atual sobre direitos humanos, proteção ao meio ambiente e uma governança socialmente responsável”, enfatiza Caio.
Atualmente, os consumidores têm apoiado e valorizado cada vez mais as instituições que se preocupam com essas pautas. Nesse sentido, empresas que investem em práticas ESG, inclusive as pequenas, já obtêm um ganho reputacional muito grande, destacando positivamente suas imagens. Ademais, outros benefícios podem ser observados, como: a redução de custos; a ampliação do mercado consumidor; o aumento de vendas; a atração de colaboradores, em virtude das práticas de valorização dos profissionais; e, consequentemente, de investidores, além do aumento do valor das empresas.
O gestor destaca que o debate socioambiental é muito importante na atualidade, principalmente no contexto brasileiro, vistas as calamidades ocorridas recentemente e que impactam a natureza e afetam diretamente a vida das pessoas. Os desastres que ocorreram nos municípios mineiros de Mariana e Brumadinho são exemplos claros de como um deslize de governança, de falta de práticas ESG, pode resultar em tragédias para o meio ambiente e o ser humano.

“ESG, portanto, é uma forma de estar mais atento e saber prevenir muito mais esses riscos, assim como também é uma ferramenta para aumentar a perenidade dos negócios, a lucratividade e a qualidade de vida no trabalho”, sublinha o consultor.
Em suma, o compromisso com os princípios propostos pelo conceito ESG atrai clientes, colaboradores, parceiros e investidores, além de melhorar a reputação e a imagem dos empreendimentos, aumentando o lucro e o valor institucional a longo prazo.
Além de promover uma cultura organizacional que compreende uma série de práticas, o ESG também permite analisar, através de indicadores, se as empresas realmente estão comprometidas com os três pilares do conceito. A Global Reporting Initiative (GRI), por exemplo, reúne uma série de normas e indicadores para a construção de relatórios anuais divulgados publicamente sobre as práticas ESG nas instituições, de modo a verificar se elas realmente atendem às questões estabelecidas. Há também índices e rankings sobre a temática, sendo que um dos mais conhecidos é o Índice Dow Jones de Sustentabilidade, no qual os investidores podem consultar quais organizações têm as melhores práticas do mercado.
Atuação profissional
Segundo o mestre em desenvolvimento sustentável, o cenário ESG no Brasil está em expansão. Isso significa que já existem oportunidades e que ainda surgirão outras para as pessoas que querem trabalhar desenvolvendo esses aspectos.
Existem muitas empresas, instituições e iniciativas com escopo de atuação e objetivos de negócios diferentes e que contratam profissionais para atuarem nos pilares propostos pelo ESG. Há oportunidades que focam em determinada área, por exemplo: no aspecto social, com ênfase na gestão de pessoas, na saúde e segurança no trabalho; na perspectiva ambiental, com ênfase na redução de consumo de energia elétrica e de geração de resíduos sólidos; no aspecto de governança, em relação a como a empresa se relaciona com investidores e fornecedores de serviços, à transparência nos negócios e ao combate à corrupção; entre outros inúmeros escopos de atuação que envolvem o tripé do conceito.
As temáticas são tão múltiplas e diversas que podem englobar várias profissões. Antropólogos, gestores ambientais, administradores, biólogos e advogados são alguns dos profissionais que podem atuar nessa área. ESG é, então, para todos que querem trabalhar com negócios.
“O profissional de ESG pode fazer muitas coisas, o universo ESG é muito amplo. Eu diria que é um universo multidisciplinar por essência”, destaca o consultor de sustentabilidade.
ESG em pequenas empresas
Caio considera que as pequenas empresas também podem adotar práticas ESG visando a perenidade dos negócios e a capacidade de sobreviver às grandes mudanças sociais, econômicas e ambientais que têm potencial de impactar a economia global e local. Pode ser uma vantagem e, inclusive, estratégia de negócio para o pequeno empresário se posicionar melhor, saber o que influencia mais o seu empreendimento e o que afeta positivamente ou negativamente a sociedade.
“As pequenas empresas podem ter capacidades limitadas, mas isso não quer dizer que elas não possam assumir práticas ESG, implantando ações de transparência nos negócios, podendo valorizar fornecedores que fazem parte de uma cadeia que adota medidas ESG, por exemplo”, ressalta o profissional.

De acordo com o gestor, pequenas e simples ações são capazes de fazer a diferença. Se em uma empresa há 30 colaboradores e a cultura organizacional é usar copo descartável, ela pode mudar essa mentalidade e passar a oferecer canecas para cada pessoa. Assim, estará deixando de gastar milhares de copos descartáveis por ano, através de uma iniciativa voltada à redução de lixo.
Empresas que vendem alimentos, por exemplo, podem promover a compra de mantimentos mais saudáveis de pequenos agricultores, ao invés daqueles processados. “Só de se posicionar estrategicamente, a empresa ganha um diferencial no mercado. Ela para de vender, por exemplo, hambúrguer processado e começa a vender alimentos selecionados de pequenos produtores”, comenta Caio.
Na área social, a valorização da diversidade e inclusão aplicada aos negócios pode fornecer múltiplos pontos de vista, os quais potencialmente agregarão e trarão benefícios e boas práticas às empresas. No escopo da governança, é imprescindível a implementação de políticas que valorizem a transparência, o combate à corrupção e a integridade do empreendimento, cuidando das relações internas e externas.
“ESG tem a ver com a busca pela lucratividade, mas é também pensar que estamos melhorando a vida do colaborador, promovendo um ambiente melhor para o trabalho e consumo e adotando práticas e produtos mais saudáveis e sustentáveis”, finaliza Caio.