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Pimp My Carroça é movimento inovador de arte, tecnologia e reciclagem

Iniciativa promove a visibilidade e valorização dos trabalhadores informais

Por Emerson Luchesi

Muitos são os homens e mulheres que atuam recolhendo materiais recicláveis com o objetivo de encaminhá-los ao destino correto: a reciclagem. Frequentemente tendo esse ofício como única fonte de renda, inúmeros catadores e catadoras vão às ruas em busca do sustento de suas famílias, dedicando-se de maneira fatigante à etapa mais importante do processo de reaproveitamento dos resíduos. 

Esses profissionais são responsáveis pela destinação adequada de nada menos do que 90% de tudo que é reciclado no país produzido em todo o país. Contudo, apesar dessa relevância, eles são rotineiramente marginalizados e estigmatizados, usualmente atuando de maneira informal e invisível aos olhos de muita gente. E para que haja concretamente sustentabilidade e a apropriada gestão de resíduos sólidos no Brasil, é essencial apoiar, incluir e valorizar esses trabalhadores.

Pensando nisso é que surgiu o Pimp My Carroça: uma organização sem fins lucrativos que atua desde 2012 para tirar os catadores da invisibilidade e aumentar sua renda por meio da arte, sensibilização, tecnologia e participação coletiva.

Um movimento que faz toda a diferença 

João Lacerda, membro da organização e profissional da área de captação e parcerias, explica que o movimento nasceu por uma ideia individual do seu fundador, Thiago Mundano. Ativista e artista de rua, ele pintava, desde 2007, carroças nas vias de São Paulo/SP. Em 2012, ele resolveu fazer uma ampla ação coletiva em prol dos catadores no Vale do Anhangabaú (no centro paulistano), reunindo vários artistas, dentre outros colaboradores e apoiadores da causa. A iniciativa deu certo e, a partir daí, a organização foi criada com essa primeira tecnologia social: usar a arte para dar visibilidade ao trabalho de quem mais faz pela reciclagem no Brasil. 

Um homem pinta uma placa com as palavras: "Catador com muito orgulho"
Divulgação: Pimp My Carroça

As edições do Pimp My Carroça são grandes eventos que acontecem devido ao trabalho de voluntários que se unem para transformar as carroças e a vida dos catadores. A atividade central do projeto social são as reformas das carroças, principais instrumentos de trabalho dos labutadores. Elas são regeneradas através da atuação de borracheiros e, principalmente, pela arte dos grafiteiros, que as deixam mais bonitas, cheias de cores e com frases que chamam a atenção, tornando-as mais funcionais e atraentes

Os eventos ocorrem em lugares públicos e ao ar livre, a fim de também proporcionar a esses profissionais e suas famílias um dia de lazer, arte, entretenimento e bem-estar. Há desde atrações culturais até atendimento com médicos, psicólogos, massagistas e cabeleireiros. Tudo isso em vista da valorização desses trabalhadores e do fortalecimento do que eles fazem, transformando não só os seus instrumentos de trabalho, mas também suas próprias vidas, melhorando a autoestima e promovendo a sua visibilidade laboral.

Desde a criação, o projeto foi se multiplicando e se espalhando pelo país e pelo mundo, sendo replicado com sucesso em outras localidades. Até hoje, foram realizadas edições em São Paulo/SP, Jacareí/SP, Bragança Paulista/SP, Rio de Janeiro/RJ, Curitiba/PR, Recife/PE, Salvador/BA, Cuiabá/MT, Manaus/AM e Brasília/DF. Fora do país, o evento já aconteceu nas cidades colombianas de Cali, Bogotá e Medellín e também em Quito, no Equador.

Dois homens fazendo o gesto de polegar levantado em frente a um carro  com as palavras "Menos aterros mais coleta seletiva"
Divulgação: Pimp My Carroça

Segundo Lacerda, ao longo desses mais de dez anos, acima de 10 mil catadores tiveram seu trabalho transformado pela organização, sobretudo os informais, que não estão ligados a cooperativas ou a qualquer outra iniciativa coletiva. “Os informais acabam sendo o nosso foco, no sentido de fortalecer o trabalho deles. E hoje nós temos ao nosso redor essa comunidade de catadores e catadoras que contam com o Pimp My Carroça para a melhoria de suas carroças e para esse apoio institucional que eles não têm em nenhum outro lugar”, ressalta.

“Hoje o movimento se constitui como organização própria, se institucionalizou e continua se expandindo através do trabalho de levar arte, cultura e tecnologia para os catadores de rua, tirando esses profissionais da invisibilidade e proporcionando apoio, fortalecimento e aumento de renda para eles”, destaca Lacerda.

Arte e tecnologia para os catadores

João Lacerda conta que uma das primeiras iniciativas que mobilizou e impulsionou o projeto foi esse trabalho coletivo de reformar e transformar as carroças em obras de arte – com pinturas criativas, frases motivacionais e design mais atrativo. Com esse apoio e visibilidade propiciados pelas ações, os catadores passaram a ter mais procura pelos seus serviços, estabelecendo contato e relacionamento com o potencial público contratante.

Além disso, apesar do foco nos trabalhadores informais, o movimento também começou a atender algumas cooperativas através da solicitação de determinadas patrocinadoras. “Fomos para as cooperativas a partir dessa demanda das empresas e nós também conseguimos beneficiar as cooperativas, transformando-as em museus de arte e de fortalecimento da reciclagem”, destaca João.

Sendo uma organização sem fins lucrativos, Lacerda pontua que os ganhos ficam sempre com os catadores, pois as vantagens que o movimento traz são voltadas a eles. “O modelo de negócio é esse benefício destinado aos catadores através do ganho de visibilidade. Então, nós passamos a usar a arte para dar grande visibilidade e, consequentemente, aumento de renda aos profissionais, revela.

Um homem pinta algumas caixas com formas abstratas coloridas usando um spray.
Divulgação: Pimp My Carroça

Outro forte instrumento desenvolvido pela organização e que tem ajudado os trabalhadores é o aplicativo Cataki, lançado em 2017. Essa ferramenta conecta os geradores de resíduos aos catadores, ampliando a divulgação dos serviços de coleta. Além de valorizar a profissionalização, essa tecnologia tem como objetivo aumentar a reciclagem e a renda dos próprios trabalhadores. Atualmente, já há mais de 4.500 profissionais conectados no aplicativo, que tem funcionado muito bem na grande São Paulo e em quase duas mil cidades onde já foi baixado. Através do Cataki, você pode solicitar uma coleta na sua residência, acionando o catador cadastrado mais próximo da sua região.

Todavia, segundo João, a ferramenta não consegue ser bem utilizada em todas as cidades, pelo fato de por vezes faltarem geradores de resíduos ou prestadores de serviço em determinadas localidades. Ele também comenta que, infelizmente, há vários outros desafios a serem vencidos, pois ainda hoje temos que lidar, por exemplo, com a tentativa de criminalização da atividade de catadores e catadoras. “Já houve muitas iniciativas legislativas de proibir a atividade, pois o trabalho dos catadores informais muitas vezes é visto como sendo concorrente da coleta seletiva oficial da prefeitura”, comenta.

Um homem sorridente ao lado de duas caixas com pinturas coloridas abstratas.
Divulgação: Pimp My Carroça

Com a iniciativa do Pimp My Carroça, é possível perceber o quanto esses trabalhadores, que frequentemente vivem na informalidade, necessitam de mais apoio, amparo, voz e reconhecimento. A responsabilidade social e ambiental está diretamente ligada a isso, pois, além de contribuírem para cidades mais limpas e para o aumento da reciclagem, diversas famílias têm esse ofício como a única fonte de renda. Por ser uma atividade que não possui tantas barreiras de entrada, ela tem se tornado cada vez mais uma possibilidade de sobrevivência para a população extremamente vulnerável e que vive em situação de rua em todo o Brasil. 

“O catador de latinha que vive na rua é um agente ambiental que precisa ser dignamente reconhecido. É a atividade de catador que permite uma sobrevivência honesta, sendo uma atividade econômica que tem um valor muito grande para a sociedade como um todo”, finaliza João.

Uma mulher sorridente entre caixas com pinturas coloridas abstratas.
Divulgação: Pimp My Carroça

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