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O Design Universal para acessibilidade e diversidade em espaços, produtos e serviços

Projetos que respeitem a diversidade e que promovam a inclusão e a acessibilidade são pensados a partir do conceito de Design Universal

Por Emerson Luchesi

Pensar em espaços, produtos e serviços acessíveis a todos é um desafio que vem sendo cada vez mais exigido pelo público. Contemplar a diversidade humana é uma tarefa à qual muitos engenheiros, arquitetos e designers têm se voltado em seus projetos.

O Design Universal é uma abordagem nessa direção, com princípios que visam garantir que os espaços, produtos e serviços atendam o público da maneira mais ampla possível, considerando qualquer tipo de diferença apresentada pelos indivíduos. Para isso, essa ferramenta orienta que os projetos de recintos e outros elementos se pautem em um design único e que seja acessível, inclusivo e abrangente.

Assim, o Design Universal propõe a construção de soluções que contemplem o maior número de pessoas e suas especificidades, sem focalizar adaptações para um público exclusivo, mas pensando na utilização universal de ambientes e itens.

Uma pessoa com deficiência visual lendo uma informação em braile

Em projetos arquitetônicos, por exemplo, é necessário garantir a acessibilidade, de modo a favorecer a mobilidade e facilitar o uso por um público diverso. Entretanto, o conceito de Design Universal ultrapassa estratégias direcionadas apenas à inclusão de pessoas com algum tipo de deficiência física, exemplificativamente, pois objetiva criar espaços, objetos e serviços que sejam acessíveis a toda a diversidade humana, sendo utilizados de forma igualitária.

Em suma, é pensar em espaços amplos, produtos acessíveis e serviços que atendam a todos, prezando sempre pela diversidade e promovendo a inclusão. E isso não somente em ambientes físicos construídos, uma vez que o Design Universal também está ligado a soluções digitais. Assim, todos os projetos devem ser desenvolvidos com o intuito de atender e possibilitar o acesso e a participação de todos, sem exceção. Para tanto, devem levar em consideração toda a pluralidade que se manifesta através das diferenças físicas e cognitivas, promovendo, dessa forma, a usabilidade universal.

O conceito de Design Universal e sua importância

O Design Universal (projeto universal ou desenho universal), como o próprio nome sugere, envolve a universalidade dos elementos (edificações, produtos ou serviços), de modo que sejam aplicáveis e acessíveis a todos os usuários de forma natural. Por exemplo, um espaço amplo em que se tenha facilidade de locomoção, rampas de acesso, portas automáticas e dispositivos inteligentes, como torneiras, bebedouros entre outros, é um ambiente de uso mais democrático e universal.

“É um conceito que tem como foco o ser humano e sua diversidade e dá suporte a planejamentos e leis de acessibilidade”, revela Cristianne Abreu.

Cristianne Abreu, arquiteta e urbanista, mestra em Engenharia Civil e especialista em Neuroarquitetura, ao discorrer sobre o tema, apresenta inicialmente duas citações que abordam o conceito na prática da acessibilidade como um direito das pessoas com alguma deficiência ou mobilidade reduzida. Uma se refere ao Estatuto da Pessoa Com Deficiência (2015) e outra sobre a Norma NBR 9050, que estabelece parâmetros para projetos universais. 

Homem de cadeira de rodas aguardando um elevador acessível

Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015), o Desenho Universal diz respeito à “concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva”.

Para mais, a especialista em neuroarquitetura menciona a Norma NBR 9050:2020, a qual afirma que o Desenho Universal “estabelece critérios para que edificações, ambientes internos, urbanos e produtos atendam a um maior número de usuários, independentemente de suas características físicas, habilidades e faixa etária, favorecendo a biodiversidade humana e proporcionando uma melhor ergonomia para todos”.

Cristianne Abreu ainda observa que é muito comum, quando se fala em deficiência, pensar somente nos deficientes motores/físicos, como visuais, auditivos e cadeirantes. Todavia, é necessário lembrar das demais deficiências: cognitiva, perceptiva, demográfica, dimensional e deficiências múltiplas. Como afirma o Relatório Mundial sobre a Deficiência (2012): “a deficiência faz parte da condição humana. Quase todas as pessoas terão uma deficiência temporária ou permanente em algum momento de suas vidas, e aqueles que sobreviverem ao envelhecimento enfrentarão dificuldades cada vez maiores com a funcionalidade de seus corpos. A maioria das grandes famílias possui um familiar deficiente, e muitas pessoas não deficientes assumem a responsabilidade de prover suporte e cuidar de parentes e amigos com deficiências”.

Princípios do Design Universal 

A arquiteta e urbanista cita a existência de sete princípios do Design Universal, os quais dão suporte a planejamentos e leis de acessibilidade em todo o mundo. Tais fundamentos devem ser levados em consideração no desenvolvimento de projetos que se baseiem em tal conceito, de modo a beneficiar o maior número de pessoas. São eles: 

Assim, com a observância desses princípios no desenvolvimento de um determinado projeto, é possível promover o uso mais natural possível de espaços, produtos e serviços. Desse modo, pode-se garantir a utilização igualitária, adaptável às diferenças, de fácil entendimento, com o mínimo de riscos possíveis e de esforços, além do necessário conforto.

Uma pessoa trabalhando em uma planta baixa.

Cristianne afirma que a Arquitetura, a Engenharia e o Design devem promover a inclusão através de seus projetos. “Hoje muito se fala em arquitetura humanizada, mas, a meu ver, é impossível o espaço ser considerado humanizado sem que ele seja acessível. Pense comigo: o espaço humanizado deve acolher o humano com todas as suas características e diversidades. Se não for acessível, ele deixa de acolher o humano. Como pode um espaço humanizado que não acolhe a diversidade humana?”, questiona a arquiteta.

A profissional em arquitetura também aborda o fato de a cultura da “normalidade” e do padrão “ideal” tentar igualar o que não é igual, ignorando a existência da pluralidade, que é algo rico e de valor. “Essa cultura desconsidera alguns fatores importantes: ser diferente é normal, a maior busca pela qualidade de vida, o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população mundial. Tais razões tornam essa questão que envolve o conceito de Design Universal mais presente, pertinente e relevante nos dias atuais”, ressalta. 

Além disso, Abreu afirma ser um setor próspero, tendo em vista a conscientização das pessoas, como a procura, em especial, por condomínios residenciais especializados em idosos, as chamadas cohousing; e a divulgação dos empreendimentos que estão utilizando a acessibilidade como marketing para aumentar a aceitação do produto. “A médio e longo prazo, os benefícios são incontáveis, mesmo tendo um custo inicial um pouco mais alto”, comenta Cristianne.

Contribuição do Design Universal para projetos 

Segundo Cristianne, os espaços com Desenho Universal são vitais, pois beneficiam a maior quantidade de pessoas possível: crianças, adultos e idosos, com ou sem deficiência. É uma maneira de garantir igualdade de oportunidades e proporcionar maior segurança, autonomia e conforto. Ademais, essa é uma questão de direitos humanos.

“Não é aceitável mais conceber ambientes que discriminem os indivíduos. Apesar de o Desenho Universal não ser lei, a acessibilidade é, e, nos últimos anos, este assunto tem sido mais discutido. Algumas leis e normas foram criadas. Destaco, por exemplo, a lei n° 13.146/2015, mais conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, que considera ‘discriminação em razão da deficiência toda a forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas’”, comenta. 

Assim, a profissional aponta que empresas ou pessoas, incluindo profissionais da construção civil, que se recusem a cumprir tal legislação podem sofrer danos jurídicos por discriminação.

Design Universal para edificações e cidades

Segundo Cristianne, para as áreas da Arquitetura, Engenharia e Design, a principal norma a ser consultada antes da elaboração de qualquer projeto acessível é a ABNT NBR 9050:2020, a qual apresenta as diretrizes fundamentais que uma edificação e uma cidade devem atender.

De modo geral, a tabela abaixo, apresentada pela arquiteta, cita as principais questões que devem ser analisadas conforme a norma.

  • Horizontal: deve ter no mínimo 120 cm;
  • Vertical: elevadores, plataformas elevatórias e rampas com inclinação adequada. A norma exige pelo menos dois tipos de circulação vertical com acesso às principais portas;
  • Rota acessível: manter bem identificada e livre de mobiliários e outras barreiras, para evitar acidentes;
  • Áreas de manobra e áreas de transferência e aproximação: bem dimensionadas e livres de obstáculos; e
  • Calçadas: pisos nivelados e antiderrapantes.
  • Aberturas com vãos livres de no mínimo 80 cm dão maior conforto aos usuários.
  • A altura deve considerar o alcance visual da pessoa sentada e permitir o acionamento dos comandos.
  • Acessíveis (esse é o local de maior número de acidentes, por isso, a norma é bem exigente em tal ambiente).
  • Use o princípio dos dois sentidos;
  • Comunicação visual adequada (com contraste, bem localizada);
  • Comunicação sonora e tátil nos lugares adequados.
  • Deve haver uma área de transição de luminosidade, a fim de evitar o ofuscamento e melhorar a adaptação visual, principalmente para os deficientes visuais.
  • Fazer diferenciação de cor entre o piso e a parede, deixando bem demarcada a área do ambiente, para auxiliar os deficientes visuais.
  • Dentro do alcance manual da pessoa sentada.

Além disso, de acordo com Cristianne, outras normas e leis contribuem para o desenvolvimento de projetos com design universal. Adicionalmente, são visíveis os resultados sociais positivos advindos de campanhas, programas e políticas públicas que se destinam a tornar os espaços mais adequados e acessíveis.

“A conscientização quanto ao bem-estar de todos, a educação e a valorização da vida humana devem fazer parte da missão de profissionais e empresas, que contribuirão na construção de um mundo mais inclusivo, humano e justo”, finaliza a arquiteta e urbanista.

Desse modo, é evidente a importância de se aplicar o conceito de Design Universal em projetos dos mais variados setores. Assim, é possível atender a diversidade humana e promover o acesso e o uso democrático de produtos, ambientes e serviços.



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