• Instagram
  • Facebook
  • Linkedin

Hologramas ampliam possibilidades para shows musicais

Técnica centenária de projeção em 3D traz novas alternativas para apresentações musicais

Por Edmar Neves

As luzes diminuem, os músicos da banda se posicionam estrategicamente, enquanto fumaça e feixes de luzes coloridas geram um contraste ao fundo. Em um momento mágico, imagem e som se unem para trazer ao palco, mais uma vez, a performance de uma voz inesquecível do mundo da música. 

A ideia de utilizar hologramas em apresentações musicais não é recente. Em 2012, o cantor estadunidense Snoop Dogg realizou uma apresentação no festival Coachella com a projeção do rapper Tupac, falecido em 1996, tornando-se um marco para o uso dessa técnica nos palcos. Apesar desse histórico, nos últimos tempos é que essa estratégia tem ganhado mais força, graças aos avanços tecnológicos, servindo como um elemento artístico em diversas apresentações.

No caso brasileiro, a primeira vez que o público conseguiu reencontrar um clássico da música através do uso de hologramas foi em julho de 2013. A ocasião foi um show no qual “se apresentou” Renato Russo, eterno líder da mítica Legião Urbana, que morreu em 1996.

Entretanto, como a tecnologia ainda estava muito rudimentar para esse tipo de uso, o evento foi marcado por problemas técnicos e reclamações dos fãs. O cantor legionário só deu o ar da graça no final da apresentação, após ter algumas de suas icônicas canções interpretadas por 14 grandes nomes da música brasileira.

O holograma é uma tecnologia que produz imagens tridimensionais a partir de feixes de luz que refletem objetos/pessoas reais, gerando um “clone” em 3D desse item/ser, o qual pode ser visto a olho nu. A tecnologia foi desenvolvida em 1858 por um engenheiro inglês chamado Henry Dircks e foi aprimorada pelo cientista, também inglês, John Henry Pepper. 

Encontrando um ídolo da infância

Alguns meses depois do espetáculo com Renato Russo, foi a vez de Cazuza, outro ícone da música, morto em 1990, retornar aos palcos através do uso de hologramas. O primeiro show ocorreu em 30 de novembro de 2013, na cidade de São Paulo/SP, e depois no Rio de Janeiro/RJ, no dia 19 de janeiro de 2014, na Praia de Ipanema.

Entre as mais de 30 mil pessoas presentes para assistir essa apresentação histórica na praia, estava a cantora e atriz Vittória Braun, à época recém-chegada às terras cariocas, vinda de Belém do Pará. “Quando criança, eu era muito fã de Cazuza por causa da minha mãe, no nível de saber todo o repertório e a sequência das músicas nos discos. Então, havia nessa experiência uma relação afetiva muito profunda, de retorno à infância”, explica.

“E nesse show eu fui pega de surpresa, porque eu não sabia que haveria um holograma do Cazuza. Na verdade, eu nem sabia direito o que era um holograma”, relembra a artista. “Eu cheguei na Praia de Ipanema e de repente o Cazuza estava lá em cima de um palco, num tamanho real, com a voz dele e, assim… confesso que chorei quando vi aquilo acontecendo”, diz.

Só que passado o primeiro impacto de se encontrar com o ídolo em um show especial, Vittória nos diz que começou a se incomodar com toda a situação. “Fiquei pensando se o próprio Cazuza iria aprovar aquilo tudo, sabe? Do jeito que ele era, eu acho que arranjaria um jeito de chutar aquele holograma”, brinca.

“Mas como eu não era a pessoa responsável pelo show e não sabia se os direitos de imagem estavam sendo respeitados, ou seja, estava lá como público, eu digo que tudo isso foi muito interessante, porque foi muito real. A imagem de Cazuza cantou algumas músicas e dançou. Parecia que era ele mesmo que estava em cima do palco”, comenta Vittória.

Polêmicas envolvendo o uso da imagem de artistas

Se essa experiência causou um misto de emoção e desconforto em Vittória há quase dez anos, o que se dirá na atualidade. Com o avanço das tecnologias de projeção, da computação gráfica e da inteligência artificial, a produção de materiais e o uso de imagens de artistas para diversos fins têm causado algumas discussões no Brasil e no mundo.

“Eu entendo que existem alguns perigos nesses usos, como: algumas profissões que podem desaparecer por conta das novas ferramentas que estão surgindo; e o uso de imagens de pessoas que já faleceram e não podem dizer se estão de acordo com isso. Dá até mesmo para pedir ao ChatGPT que componha uma música no estilo de um determinado artista”, diz Vittória.

Ao mesmo tempo, a cantora e atriz pondera que o uso dessas novas ferramentas virtuais não precisa ser antagônico à arte

“Existem coisas que são artificiais, mas que também são artísticas. Elas não precisam ser opostas. Mas eu acho que precisa haver um pensamento artístico por detrás dessas produções, se não a gente vira um robô, mesmo sendo humano”, comenta.

“E, na minha visão enquanto artista, um próximo passo é o da regulamentação dessas ferramentas, para que possamos utilizá-las de maneira segura e sem causar danos para artistas e produtores de conteúdo no geral”, afirma.

Usos em produções atuais

Seguindo a tendência de adotar aparatos tecnológicos para produções de espetáculos, vários artistas renomados estão abraçando o recurso dos hologramas para realizar shows inesquecíveis.

Um exemplo disso foi a apresentação da diva máxima do pop Madonna no Billboard Music Awards, em maio de 2019. Nesta situação, ela interagiu com quatro versões holográficas dela mesma enquanto cantava a música Medellín, em parceria com o cantor Maluma. 

A música faz parte do álbum conceitual Madame X, lançado em junho de 2019. Nele, a cantora encarna uma agente secreta, chamada Madame X, que viaja pelo mundo e utiliza diversos disfarces para cumprir suas missões.

Outro grupo clássico da música pop internacional que utilizou tecnologias holográficas para uma apresentação histórica foi o sueco ABBA. Após um hiato de quatro décadas, a banda “retornou” aos palcos em 2022, com um show comandado por projeções dos integrantes do grupo em versões rejuvenescidas.

Compartilhar

uma sala de estar decorada, com sofá e escrivaninha.

Como a Neuroarquitetura transforma um ambiente em favor do nosso bem-estar físico e mental

set 2023

Espaços que nos envolvem podem ser mais eficientes, estimulantes e[...]

Leia mais
Uma mulher usando um cocar na chuva

Os avanços da inteligência artificial na criação de imagens

ago 2023

Programas que geram imagens através de textos vêm se popularizando e impressionando no campo da[...]

Leia mais