Por Edmar Neves
Com as mudanças climáticas e com os recursos naturais cada vez mais limitados, os setores público e privado e a sociedade civil têm buscado formas de minimizar os impactos do nosso consumo no meio ambiente. Dentre as muitas estratégias para amenizar essa situação, a coleta seletiva é uma das mais acessíveis para implementação em nosso dia a dia.
Contudo, mesmo havendo uma Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) em voga no Brasil, infelizmente muitos municípios ainda não possuem uma estrutura capaz de garantir uma coleta seletiva efetiva.
Considerando esse déficit, muitos empreendimentos têm oferecido serviços desse tipo para condomínios, contribuindo para o incremento da sustentabilidade no manejo e no descarte dos resíduos gerados pelos moradores desses locais.
O Instituto Muda é uma dessas empresas que aposta na sustentabilidade. Afora a disponibilização de serviços para garantir a coleta seletiva em condomínios da cidade de São Paulo, a instituição também é inovadora em sua atuação, servindo de exemplo para iniciativas em outras regiões.

“O Muda começou quando seu fundador, Alexandre Furlan Braz, descobriu que não havia uma gestão eficiente de resíduos em seu condomínio. Assim, ele desenvolveu pesquisas na gestão ambiental, que é a sua área de formação, fez alguns testes e iniciou a prestação de serviços para condomínios”, nos conta Rosely Ruibal, a head comercial do Instituto.
Operação diferenciada que mostra resultados
Para gerir todo o processo de descarte dos resíduos dos condomínios com custos acessíveis, a empresa faz, em um primeiro momento, o levantamento das demandas específicas do local. Após essa análise inicial, é desenvolvido um projeto visando o aprimoramento da operação. Depois que a proposta é aprovada, há a adequação de um espaço onde é instalado um contêiner para o despejo dos materiais pelos moradores. Esse recipiente é feito com embalagens Tetra Pak recicladas e possui uma bag de ráfia.
“Apenas com esse processo de adequação do espaço e instalação do contêiner para o descarte dos resíduos, o condomínio consegue ter uma economia em sacos de lixo, um ganho operacional e a redução de insalubridades, como riscos de acidentes e contaminações, entre outros. Somente com essas melhorias, o condomínio já obtém inúmeras vantagens”, explica Rosely.

Posteriormente à instalação dos contêineres, é hora de realizar uma capacitação com todos os envolvidos, a qual é dividida em três partes. A primeira é feita com os funcionários do condomínio. “Explicamos para eles toda a parte operacional: o dia da coleta, a forma correta de colocar e retirar as bags”, afirma Rosely. Em seguida, há uma formação com os moradores do local, quando é explicado quais materiais são recicláveis, como higienizá-los, além de se esclarecerem eventuais dúvidas.
Ao final dessa fase, volta-se a atenção aos funcionários domésticos e diaristas, pois são as pessoas que normalmente fazem o descarte dos resíduos, sendo, assim, peças essenciais para o funcionamento da operação. “Todo esse processo, que chamamos de implementação, dura cerca de seis meses e só depois desse treinamento é que iniciamos a coleta”, complementa Rosely.
Contando com uma frota própria, o Instituto Muda realiza, então, o recolhimento dos resíduos, os quais são encaminhados a cooperativas parceiras. “Todo o material coletado é doado para cooperativas de recicladores. Até por isso, os moradores do condomínio sabem quais materiais eles devem destinar para a reciclagem e quais serão descartados de outros modos”, comenta Rosely. “É por seguir esse modelo que o nosso negócio é social, afinal somos uma empresa e não uma ONG, mas temos esse propósito ambiental e social”, diz a head comercial.
“As pessoas muitas vezes deixam de participar da coleta seletiva, pois não sabem o destino do material”, explica Rosely.
Por isso, os resultados são apresentados aos condôminos. São compartilhadas informações como: quais cooperativas foram contempladas; quantas pessoas estão sendo empregadas; e quantas toneladas de resíduos deixaram de ser descartadas na natureza.
Fomento econômico
Outra questão primordial relacionada à coleta seletiva é a sua importância para a economia. O modelo mais “tradicional” de descarte de resíduos leva-os a aterros sanitários, sem lucro algum. “Estamos literalmente enterrando dinheiro nesse processo”, comenta Rosely. A coleta seletiva, por outro lado, é lucrativa. Afinal, muitos materiais que possuem valor econômico, em maior ou menor grau, podem ser reciclados, como ferro, alumínio, papel, plástico etc. Com isso, além da mitigação dos impactos ambientais, há também o estímulo à produção e à comercialização de matérias-primas.
“A coleta seletiva traz benefícios socioeconômicos ao gerar renda e emprego para inúmeras famílias, seja dentro da nossa operação, seja no fomento a cooperativas de reciclagem, as quais garantem mais dignidade ao trabalhador”, continua Rosely.
Desse modo, ao realizar a gestão dos resíduos em condomínios e ao assegurar a destinação adequada desses materiais, o Instituto Muda faz parte desse ciclo benéfico. O empreendimento propicia, assim, impactos positivos nas esferas ambiental, social e econômica.
Empresas subsidiam a coleta seletiva em condomínios
Mesmo que os custos de implementação da coleta seletiva sejam relativamente baixos, dadas as múltiplas vantagens que a operação traz, muitas vezes há impedimentos financeiros para a contratação desses serviços pelos condomínios.
“Visando superar essa barreira, o Instituto Muda realiza parcerias com outras empresas através do projeto ‘Adote um condomínio’, no qual parte da implementação da operação de descarte de resíduos é patrocinada por uma empresa parceira, que recebe, em troca, créditos de logística reversa”, afirma Rosely.

Conforme a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, a logística reversa é caracterizada por um conjunto de ações que obriga diversas empresas a implementar a coleta e a redistribuição ou destinação ambientalmente adequada de seus resíduos.
Para garantir que essas diretrizes sejam cumpridas, foi criado um programa de créditos de logística reversa. Nele, as empresas fazem parcerias com cooperativas de reciclagem, entre outras instituições, sendo que as notas fiscais referentes à venda dos materiais reciclados ou reaproveitados são utilizadas como comprovantes da mitigação dos impactos ambientais dos empreendimentos.
“Nós começamos a fazer parcerias nesse modelo de créditos de logística reversa com a Natura, em 2017. Hoje contamos com vários parceiros, como a Nestlé, a Ambev, a Tetra Pak, a Klabin, a Nivea, a Braskem, o Ifood, entre outras empresas”, explica a head comercial.
Mais benefícios a serviço da coleta seletiva
Para estimular a coleta seletiva, toda ajuda é bem-vinda. Por esse motivo, o Instituto Muda criou um aplicativo que bonifica os moradores do condomínio que descartam os resíduos da maneira correta.
É muito simples. Após realizar o descarte, o morador escaneia um QR code e acumula pontos. Depois, ele pode trocar os pontos por prêmios de mais de cem parceiros de variados segmentos, como restaurantes, lojas, serviços gerais etc.

Outra iniciativa é a disponibilização de mais um contêiner aos condomínios, o qual é voltado à adequada destinação de materiais especiais. Em seu design, há vários compartimentos direcionados ao descarte de pilhas e baterias, cartuchos de impressora, óleo de cozinha usado, equipamentos eletrônicos em geral e roupas a serem doadas. “Garantimos a rastreabilidade e o fim ideal para cada resíduo e doação”, explica a head comercial.
“Mas é importante dizer que a reciclagem é apenas uma parte da solução dos problemas. Antes de reciclar, precisamos repensar os nossos hábitos, o nosso consumo, os nossos processos, recusando, reduzindo e reutilizando o que for possível. E, quando não conseguimos fazer isso, precisamos minimamente reciclar os resíduos do nosso consumo”, finaliza Rosely.
Quando pensamos em coleta seletiva, usualmente imaginamos as latas de lixo com várias cores, uma para cada tipo de resíduo. Mas você sabia que esse padrão não é tão efetivo no Brasil? “Esse modelo até ajuda como um elemento educacional, mas no nosso contexto ele não funciona tão bem, pois os volumes de cada resíduo são diferentes”, afirma Rosely. “Em geral, os depósitos possuem o mesmo tamanho, só que um tende a encher mais rápido que o outro. Assim, as pessoas acabam misturando os materiais, algo que no fim confunde e leva à interrupção do descarte visando à coleta seletiva”. Dessa maneira, entender previamente quais materiais serão descartados e preparar um recipiente compatível contribui para a efetividade da gestão dos resíduos. Por esse motivo, devemos avaliar cada contexto de forma geral, considerando aspectos culturais e o perfil de consumo de cada região. Assim, é possível garantir uma coleta seletiva bem-sucedida e a adequada sustentabilidade. |