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Ecoturismo movimenta a economia em Brotas/SP

Cidade do interior paulista estimula a sua economia ao aliar turismo e preservação do meio ambiente

Por Edmar Neves

Já não é mais novidade para ninguém que estamos passando por uma grave crise climática global. Ondas de calor insuportáveis, chuvas e secas devastando cidades e regiões inteiras, qualidade do ar baixíssima, registros de neve no Sul do país: mesmo que alguns ainda insistam em negar os problemas, sentimos na pele os impactos nocivos das mudanças no clima. Líderes mundiais e empresas buscam, inclusive, alternativas sustentáveis para lidar com os desafios ambientais de hoje e de amanhã.

Sabendo desse contexto conturbado em que vivemos, imagine sua reação ao descobrir a existência de um plano para instalação de uma indústria altamente poluente na sua cidade visando alavancar a economia?

Pois foi algo que aconteceu em Brotas – município do interior do estado de São Paulo – no início da década de 1990.  Em resposta, a organização de uma parte da população e a atuação visionária de empresários e gestores da cidade modificaram definitivamente a economia local.

Pessoas em um bote praticando ecoturismo em Brotas/SP.
Créditos: Blog Alaya/Divulgação

“Historicamente, Brotas/SP teve sua economia pautada na agricultura e, quando essa produção perdeu força, muitos jovens acabaram mudando de cidade, pois não havia muita perspectiva de trabalho, fazendo com que a sua população caísse drasticamente ao longo dos anos”, explica Renata Torres, gerente comercial e social da empresa de turismo de aventura Alaya, que funciona no município desde 1997.

“Foi então que surgiu uma oportunidade de instalar um curtume na cidade, mas esse tipo de indústria é altamente poluidora, sendo que os seus dejetos iriam direto para o rio. Um grupo de jovens que estava bastante inteirado das questões ambientais na época – principalmente após a Rio-92, evento das Nações Unidas que pautou diretrizes para lidar com as questões ambientais – criou a ONG Movimento Rio Vivo e foi discutir alternativas com a prefeitura para alavancar a economia de Brotas/SP, mas sem causar danos ao meio ambiente”, diz Renata.

A partir dessa mobilização, foi criada a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Ademais, foi realizado um levantamento dos atrativos turísticos da cidade, como cachoeiras, rios, trilhas, possibilidades de esportes radicais ao ar livre etc., a fim de indicar o turismo como uma opção econômica mais interessante. Isso foi apresentado no relatório Patrimônio Natural do Município e, em 1994, iniciou-se a implementação do ecoturismo na região.

O que é ecoturismo?

O ecoturismo, também chamado de turismo de natureza, diz respeito ao turismo que utiliza os recursos naturais de forma sustentável, visando passeios e práticas de esportes no meio ambiente. Assim, é proporcionada ao visitante uma maior integração ao ecossistema por meio da oportunidade de aproveitar as belezas nativas de uma região.

Existem diversas atividades que podem ser realizadas no ecoturismo. Elas vão desde as mais calmas, como caminhadas, até as mais radicais, como as descidas de penhascos ou de cachoeiras. Também são praticados no turismo de natureza: a tirolesa, a cavalgada, o boia cross, a escalada, entre tantos outros. Então, há programas para todos os tipos de público e quase todas as idades.

Homem praticando ecoturismo em tirolesa em Brotas/SP.
Créditos: Blog Alaya/Divulgação

“Crianças muito pequenas, ou seja, abaixo dos 3 anos de idade, costumam ficar de fora dessas atividades”, comenta Renata. “Já na nossa empresa, temos como principal público famílias com filhos ou casais, mas sempre tem espaço para aventureiros que adoram praticar esportes radicais. Aqui em Brotas/SP não há uma vida noturna muito agitada, então as atividades são mais durante o dia e a galera costuma jantar e ir dormir”, afirma.

E se o plano era movimentar a economia brotense, ele deu muito certo. Segundo um levantamento feito pela Secretaria Municipal do Turismo da cidade, em 2022, o setor movimentou R$ 140 milhões, sendo o responsável por quase 50% do PIB do município e levando mais de 500 mil visitantes à região.

Já em contexto nacional, de acordo com dados do Boletim do Turismo Doméstico Brasileiro (elaborado pelo IBGE junto ao Ministério do Turismo), em 2021, mais de 25% das viagens a lazer feitas por brasileiros tiveram como destinos locais com enfoque no ecoturismo. Em relação aos visitantes estrangeiros, 18,6% dos que vieram para o Brasil em 2019 também escolheram cidades com esse foco como principal rota de passeio. Tais dados demonstram, assim, o grande interesse por essa modalidade de turismo.

Valorização do meio ambiente e demais vantagens

Para além do desenvolvimento econômico, a implementação do ecoturismo também gera outras vantagens, como a promoção da cultura local, com o incentivo à arte, à gastronomia e à valorização das tradições regionais.

Há, ainda, inúmeros benefícios relacionados à saúde e ao bem-estar de quem faz turismo de natureza. Isso por conta das atividades físicas ao ar livre, as quais trazem condicionamento físico e aliviam o estresse.

Um casal de ciclistas praticando ecoturismo em Brotas/SP.
Créditos: Blog Alaya/Divulgação

“E tem também a questão da preservação do meio ambiente e da educação ambiental, sendo que a sustentabilidade está no DNA de empresas como a Alaya”, diz Renata.

“Na verdade, a sustentabilidade faz parte do dia a dia de quem trabalha com ecoturismo. Ou seja, a nossa empresa não tem uma política específica para a preservação ambiental, já que toda a estrutura do negócio visa o respeito à natureza e a redução de resíduos poluidores”, explica a gerente comercial e social.

“Assim, adotamos copos reutilizáveis, evitamos ao máximo o uso de plástico descartável e os produtos de limpeza que nós utilizamos são biodegradáveis. Também fazemos ações sociais junto à população voltadas para a preservação ambiental através do Instituto Alaya, financiado pela nossa empresa; e damos preferência para parceiros comerciais que também levantem a bandeira da sustentabilidade como algo central em suas ações”, afirma.

O que fazer em Brotas/SP?

Como nos explicou Renata, Brotas/SP costuma chamar a atenção tanto de famílias que desejam passeios com grande integração com a natureza quanto de aventureiros em busca de esportes radicais. Então, por lá há atividades para todos os públicos e gostos!

Em primeiro lugar, o município possui diversos parques ambientais com ótima infraestrutura para garantir a segurança e o bem-estar dos visitantes. Entre os mais procurados está o Eco Parque Jacaré. Além de contar com trilhas, rapel, passeios de caiaque e visitas a cachoeiras, ele dá acesso à Represa do Patrimônio, um dos principais pontos turísticos da cidade. Outra alternativa é o Ecoparque Cassorova, que, em adição a trilhas, cachoeiras e esportes de aventura, também oferece opções de lanchonetes e hospedagem, bem como um mirante com vista para o Vale do Alto da Serra.

Pessoas praticando ecoturismo em brotas.
Créditos: Blog Alaya/Divulgação

Se o intuito é se refrescar, Brotas/SP não decepciona quanto a cachoeiras e rios. Lá o turista pode visitar a Cachoeira dos Quatis, a Cachoeira Roseira, a Cachoeira Santo Antônio, assim como o Rio Jacaré Pepira, onde é possível praticar rafting, boia cross e duck radical.

Agora, para quem quer conhecer um pouco mais da região, uma boa pedida são as trilhas que passam por cachoeiras, paisagens exuberantes e locais históricos da cidade. Entre as mais procuradas estão desde algumas curtas, como a Trilha dos Monólitos, com duração média de 3 horas, e a Trilha da Fazenda São José, que pode durar metade do dia, até outras bem mais longas, como a Trilha do Rio do Peixe, que pode levar dois dias. Também há opções de restaurantes, museus, galerias de arte, entre outras. 

E o que nasceu como uma proposta alternativa para resgatar a economia local, e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente, cresceu, ganhou uma diversidade de opções de lazer e vem gerando renda para milhares de indivíduos. Ou seja, a organização de um grupo de pessoas salvou a situação financeira e os recursos naturais de uma cidade inteira! Baita história bonita, não é mesmo?

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