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Conheça o Museu da Língua Portuguesa

Museu usa recursos tecnológicos para celebrar a diversidade de um dos nossos maiores patrimônios culturais, a língua portuguesa

Por Edmar Neves

No coração de São Paulo/SP há um prédio centenário que resiste heroicamente à passagem do tempo. Do alto de sua imponência, ele assiste ao trânsito diário de milhares de pessoas com seus sonhos, histórias, alegrias, tristezas e à pressa típica do paulistano. Trata-se da Estação da Luz, cuja inauguração data de 1865.

Entranhado em seu interior e junto das linhas de trem e do metrô, que, tais quais artérias, bombeiam fluxos de indivíduos para todos os cantos da maior cidade do Brasil, vive um estranho museu. Este, conhecido como Museu da Língua Portuguesa, parece gostar de contradizer tudo que se espera desse tipo de recinto.

Essa contradição vem principalmente do fato de que, quando pensamos em museus, a primeira imagem que idealizamos é de um espaço no qual antiguidades são abrigadas do esquecimento eterno com uma fina camada de poeira e sob a mira de poucos olhares. Estes que ainda se interessam pelo passado, seja em busca de conhecimentos ocultos, seja pela curiosidade de imaginar como era a vida em outras épocas.

Imagem de exposição do Museu da Língua Portuguesa.
Créditos: Ciete Silvério

Mas no caso do Museu da Língua Portuguesa, ao entrarmos por sua portaria e embarcarmos no elevador que nos levará a um de seus três andares, o que encontramos é outro tipo de experiência. Lá observamos a união de documentos e imagens históricas com telas interativas, reprodutores de áudio e vídeo, QR Codes, além de várias outras tecnologias adotadas para a celebração de um dos nossos mais importantes patrimônios imateriais: a língua portuguesa.

A utilização de dispositivos tecnológicos foi algo bastante natural desde a concepção do Museu, pois o tema abordado pediu por isso. Nós estamos falando da língua portuguesa do Brasil e isso implica em ouvir a língua em suas mais diversas expressões. Assim, os recursos tecnológicos permitem que se abordem assuntos tão complexos como a diversidade das línguas que falamos”, é o que nos explica Isa Grinspum Ferraz, socióloga, cineasta e curadora especial do Museu.

Espaço renascido das cinzas

Para continuar com as contradições, enquanto persistimos na ideia de que museus são ligados ao passado, o da Língua Portuguesa é relativamente moço, tendo aberto suas portas ao público em março de 2006. E mesmo com sua mocidade, o espaço tem postura de gente grande, levando, inclusive, a fama de ser um dos museus mais visitados da América do Sul.

“Desde seu lançamento nós temos um alto número de visitações, já que estamos localizados na região central de São Paulo/SP”, esclarece Isa. 

“Só para se ter uma ideia, em seus 10 primeiros anos de funcionamento, o local já recebeu quase 4 milhões de visitantes, contou 30 exposições temporárias e foi premiado 12 vezes”, diz a curadora.

No entanto, o Museu também passou por provações em sua trajetória, especialmente em 2015. Em tal ano, o local foi destruído por um incêndio iniciado por conta de um defeito na iluminação, o que tragicamente levou a vida do brigadista Ronaldo Pereira da Cruz, de 39 anos.

Parte do Museu da Língua Portuguesa
Créditos: Ciete Silvério

Foram mais de 5 anos até a reinauguração do espaço, com reconstrução ocorrida graças a uma parceria entre a iniciativa pública e a privada. Assim, em julho de 2021, foi possível que o recinto renascesse das cinzas, reabrindo suas portas e apresentando ao público novas salas, instalações, exposições e um terraço com vista para a torre do relógio da Estação e para o Jardim da Luz.

Acessibilidade, tecnologias e criatividade

Para Isa, uma das marcas do Museu da Língua Portuguesa é o fato de ele ser um local democrático, ou seja, ser um espaço que busca garantir o acesso nos mais diferentes níveis a todas as pessoas.

“Nós queremos falar para todos os brasileiros e entendemos que alguns recursos audiovisuais, como, por exemplo, a TV e o rádio, são elementos que fazem parte da vida do povo”, afirma a curadora.

“Nesse sentido, o uso de dispositivos para compor as exposições não foi pautado por modismos ou exibicionismo tecnológico, mas veio a serviço de uma narrativa construída pela curadoria e por um grande grupo de pesquisadores e artistas, que formatou um museu bastante original”, explica.

“Lembro que esse é um ‘museu imersão’, um ‘museu experiência’, ou seja, é um museu que convida o visitante a usar todos os seus sentidos para ter uma experiência muito diferente”, diz Isa.

Em relação ao uso das tecnologias, mais uma questão bastante significativa é possibilitar que pessoas com deficiência possam ter acesso às vivências proporcionadas pelas exposições do local da melhor maneira possível.

“Quando dizemos que esse é um museu democrático, um museu que fala com todas as pessoas, nós queremos abranger todas as pessoas mesmo!”, ressalta a socióloga. “Assim, os recursos tecnológicos que são oferecidos hoje facilitam em muito a relação das pessoas com deficiência com o espaço, por isso nós procuramos sempre nos atualizarmos nesse aspecto”, completa.

Corredor do Museu da Língua Portuguesa
Créditos: Ciete Silvério

Outro ponto extremamente importante que o uso de diversos meios tecnológicos traz é a variedade de possibilidades criativas. “Parte dos artistas brasileiros estão muito atentos às tecnologias não é de hoje e isso amplia os horizontes da arte como meio de expressão, reflexão e criação de beleza”, afirma Isa.

Além disso, esses recursos servem como um meio de preservação da história do recinto e de suas exposições passadas. Como exemplo, há o caso da exposição temporária “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação”, com curadoria da artista indígena Daiara Tukano, que saiu de cartaz em abril de 2023, mas foi disponibilizada gratuitamente no site do Museu para visitas virtuais.

Essa nossa canção

Assim como a língua é um fenômeno que se manifesta de diversas maneiras, estando em eterna transformação, as exposições do Museu também estão sempre mudando. E tais modificações visam justamente apresentar as várias formas como a língua portuguesa se expressa em nossa vida.

A mais recente exposição temporária do espaço chama-se “Essa nossa canção” e aborda a relação entre a nossa língua e a música, mostrando como esses elementos se misturam para compor tanto a nossa identidade quanto a memória coletiva. “Para essa exposição, além de mim, temos na curadoria Carlos Nader e Hermano Vianna, com a supervisão de José Miguel Wisnik”, explica Isa. 

A sociologa Isa Grinspum Ferraz. Créditos: Ciete Silvério

A instalação da mostra conta com 4 salas, ou ambientes, nas quais o visitante poderá experimentar a música por meio de diferentes recursos. Já no elevador, há uma intervenção sonora produzida pelo produtor cultural Alê Siqueira, em que, através de vocalizações, há a construção de uma canção sem a utilização de palavras (em perspectiva convencional).

Em outro momento, há a execução de clássicos da música brasileira reinterpretados por outros artistas. Ainda, em ocasião adicional, as músicas são cantadas sem o acompanhamento de instrumentos musicais. Neste caso, algumas frases soltas vão sendo complementadas por outras, gerando novas possibilidades de compreensão de canções consagradas.

“A exposição ‘Essa nossa canção’ traz experiências que se complementam e que exploram os diversos sentidos que o visitante aciona quando entra em um espaço museográfico”, diz Isa.

“Eles [os clássicos da música brasileira] podem ser aproveitados de maneira coletiva ou individual, sendo que esse conjunto de elementos que compõe essa experiência faz o visitante sair de nossas exposições pensando de maneira nova algo que ele conhece muito bem: a música e a língua”, finaliza.

Com curadorias inovadoras como as das exposições do Museu da Língua Portuguesa, que mobilizam recursos tecnológicos com obras de arte e registros históricos, talvez visitar um museu não seja apenas uma viagem ao passado, mas também uma experiência de futuro.

Exposição no Museu da Língua Portuguesa.
Créditos: Ciete Silvério

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