Por Edmar Neves
O caminhão chega ao seu destino e toneladas de materiais são despejadas no chão. Dependendo do local, montanhas de lixo são formadas, atraindo vários tipos de animais. Em outros casos, o material é queimado ou enterrado no solo, mas de um jeito ou de outro os impactos ambientais negativos são incontestáveis.
Com o aumento da conscientização em relação aos problemas ambientais causados pelo consumo exacerbado e pelo descarte de resíduos, imagens como essas tiram o sono tanto da população comum quanto de autoridades e empresários. Por conta disso, a destinação consciente dos resíduos produzidos diariamente vem ganhando cada dia mais adeptos. Há, inclusive, empresas especializadas no manejo de materiais recicláveis, as quais auxiliam nessa nobre tarefa.

Mas e aquele resíduo orgânico que não pode ser reciclado, o que fazer com ele? Essa é uma questão comum a várias pessoas que querem contribuir para a preservação do meio ambiente, mas têm dificuldade em identificar a melhor maneira de destinar cada tipo de resíduo produzido no dia a dia. Isso porque mais da metade do material que produzimos é orgânico e, muitas vezes, não sabemos ao certo qual a melhor destinação para essa substância.
Uma alternativa para solucionar esse grande problema é a compostagem, técnica que consiste em acelerar a decomposição da matéria orgânica, transformando-a em adubo. Assim, aquilo que antes era resíduo passa ter novo uso, podendo ser aplicado visando fertilizar o solo de hortas e de arranjos de plantas ornamentais, para o plantio de árvores, entre outros.
Para quem tem interesse em fazer a compostagem em casa, existem dois tipos principais de composteiras domésticas. A primeira é feita através da vermicompostagem, sendo chamada de vermicomposteira ou minhocário. Ela é constituída por uma estrutura com pelo menos três caixas, sendo utilizadas minhocas com o intuito de agilizar a decomposição da matéria orgânica, gerando adubo líquido e sólido. Já a segunda opção é a do processo seco, que aproveita os microrganismos da terra para a decomposição dos materiais. Neste caso, misturam-se serragem, folhas e galhos secos ao solo e aos resíduos, para facilitar o processo.
Todavia, é importante ressaltar que ambos os processos exigem pesquisa, tempo de dedicação aos cuidados demandados por uma composteira, além de tentativas e erros, os quais geram aprendizados para que as técnicas funcionem da melhor maneira possível.
Compostagem em escala industrial
E para quem não tem tempo e nem disposição para cuidar de uma composteira doméstica, mas mesmo assim quer fazer sua parte, existem alternativas? A resposta é sim. Atualmente há no mercado diversas empresas que realizam a coleta e o manejo de resíduos orgânicos. A Ciclo Orgânico, sediada na cidade do Rio de Janeiro/RJ, foi a primeira desse ramo no Brasil e tem uma história de origem bastante interessante.

“Na época da faculdade, vi um anúncio no jornal de um edital sobre empreendedorismo. Pensei que era um curso sobre o tema, não tinha interesse, mas inscrevi meu marido, Lucas Chiabi, que fazia engenharia ambiental e já desenvolvia projetos envolvendo compostagem”, relembra Thamyris Soliva, cofundadora e assessora de imprensa da Ciclo. “Enviamos um projeto de uma empresa para coletar materiais orgânicos junto às comunidades e destiná-los à compostagem. Fomos contemplados e, no meio do processo, descobrimos que o edital era para auxiliar o surgimento de novos negócios”, diz.
E foi assim, meio por acaso e com um projeto inovador, que surgiu a Ciclo Orgânico. Desde o seu nascimento, o empreendimento tem como foco a sustentabilidade e a solução dos problemas de quem quer dar um destino mais adequado aos resíduos orgânicos produzidos tanto em casa quanto nas empresas.
Os serviços de coleta oferecidos são separados por planos, os quais dizem respeito à periodicidade e à quantidade de material recolhido. Há planos direcionados a quem mora sozinho, a famílias grandes, a eventos e empresas. “A pessoa recebe um baldinho com uma sacola biodegradável para fazer o descarte e, semanalmente ou quinzenalmente, dependendo do plano que ela escolheu, um dos ciclistas da nossa equipe vai coletar os resíduos”, explica Thamyris.
Para se ter uma noção dos impactos positivos que a empresa causou no meio ambiente, vale citarmos alguns de seus resultados. Desde 2015, ano de início das atividades, de baldinho em baldinho, evitaram-se que mais de 2.900 toneladas de resíduos orgânicos fossem descartadas em aterros sanitários. Esses materiais foram transformados em 1.800 toneladas de adubo orgânico. Nesse processo, impediu-se a emissão de 2.200 toneladas de CO2eq na atmosfera, o equivalente ao plantio de 34.600 árvores. Atualmente mais de 4.000 famílias são atendidas em 25 bairros do Rio de Janeiro/RJ, sendo que, desde o começo da empresa, mais de 8.000 famílias já contrataram os seus serviços.

Outro ponto importante a ser ressaltado é que modelos de negócio como o da Ciclo Orgânico possuem no DNA a sustentabilidade em todos os seus processos produtivos. “Nós temos um sistema de reaproveitamento da água da chuva; fazemos coleta de materiais recicláveis e doamos para catadores aqui da região; e também fazemos atividades de conscientização não só dos clientes, mas dos funcionários em relação à sustentabilidade, pois não adianta propagar uma ideia que os próprios funcionários não entendem”, explica Thamyris.
“E o mais legal é que surgiram mais de 100 empresas que replicaram nosso modelo de negócios”, afirma Thamyris. “Eles entraram em contato com a gente, fomos trocando ideias e experiências. E, a partir dessas trocas, surgiu a Associação Brasileira de Compostagem, que visa orientar, tirar dúvidas e estimular a compostagem de resíduos orgânicos e que realizou, no começo de maio, a Semana Compostagem Brasil”, diz.
Impactos sociais e econômicos
A compostagem traz impactos positivos não só no âmbito ambiental, mas também no social e econômico. Isso porque empreendimentos como a Ciclo Orgânico geram emprego e renda para os mais variados setores da sociedade, de maneira direta e indireta.
A empresa também possui um programa chamado “Ciclo Solidário”. Nele, as pessoas podem “adotar” um baldinho, o qual será destinado a quem quer fazer sua parte, mas não tem condições financeiras para tanto. Com isso, ampliam-se as oportunidades a famílias em condições de vulnerabilidade social, ONGs, entre outros.

Também há a possibilidade de descartar materiais eletrônicos, óleo usado etc., e, com isso, conseguir descontos na conta de energia. Assim, gera-se uma rede em que a sustentabilidade traz vantagens não apenas ao meio ambiente, mas ao bolso da população.
“Nós temos parcerias com ONGs que buscam pessoas em situação de rua e inserem elas no mercado de trabalho. Também já trabalhamos com estrangeiros refugiados. Acredito que o principal foco é conseguir, através da compostagem e da transformação de resíduos que seriam descartados, ajudar em todos os setores da sociedade”, comenta Thamyris.
Dicas para ter uma composteira em casa
Apesar da praticidade de serviços de coleta e manuseio de materiais orgânicos, não são todas as cidades que oferecem essa opção, nem por iniciativas públicas ou privadas. Para os casos de pessoas que, ainda sim, querem diminuir o descarte desses elementos na natureza, Thamyris deu algumas dicas que ajudarão bastante a montar uma composteira doméstica.
“Acho que a primeira coisa a se fazer é separar os resíduos que são produzidos e classificá-los”, diz.
“Quando você consegue distinguir o que é reciclável, o que é orgânico e o que precisa ser descartado, você passa a ter também uma noção da quantidade de resíduos gerada ao longo da semana”.
Em segundo lugar, Thamyris explica que fazer uma composteira não se resume a misturar os resíduos e esperar alguns meses até que o adubo esteja pronto. É preciso estudar, pois, mesmo sendo um processo simples, são necessários alguns cuidados para não gerar mau odor, atrair insetos, entre outros problemas.
“Para quem nunca fez compostagem, o ideal é começar com um minhocário, mas é bom ficar atento ao que pode e ao que não pode colocar nele. Por exemplo, não podem ser colocados alimentos cítricos e nem cozidos nesse tipo de composteira”, afirma. “E se ainda houver dúvidas, a pessoa pode entrar em contato conosco em nossas redes sociais, ou buscar materiais gratuitos que disponibilizamos em nosso blog”.
Ademais, um grande desafio quando se pensa em fazer compostagem em casa é a questão da falta de espaço, vistas as moradias em apartamentos ou em locais com quintal pequeno. Para esses casos, a vermicomposteira pode ser a saída ideal, já que com um reduzido espaço e com recipientes pequenos é possível fazer uma composteira desse tipo. Ela só não pode ficar no sol e em locais muito quentes. “Mas o principal mesmo é botar a mão na massa! Não adianta explicar muitas coisas na teoria que só vão ser aprendidas na prática”, diz Thamyris.
O QUE É PERMITIDO E O QUE É PROIBIDO COLOCAR NA COMPOSTEIRA |
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Como há muitas dúvidas sobre o que pode e o que não pode ser colocado na composteira, separamos algumas dicas. Em uma vermicomposteira, há certa limitação de resíduos permitidos. Aqui vão alguns exemplos daqueles passíveis de utilização, lembrando que os alimentos não podem estar cozidos: • Legumes, verduras e frutas que não sejam cítricas; • Folhas e cascas de frutas e vegetais; • Cascas de ovo, de preferência trituradas; • Borra e filtros de café usados; • Papel e papelão, desde que sejam umedecidos e em pequenos pedaços. Agora, em uma composteira seca existe uma gama maior de resíduos que podem ser misturados com a serragem, as folhas e os galhos secos que integram a compostagem: • Restos de alimentos em geral; • Alimentos cozidos, desde que estejam secos e com pouco tempero; • Restos de ração de animais; • Resíduos frescos, como grama e folhas; • Insetos mortos; • Rolinhos de papel higiênico; • Palitos de fósforo, espetos de madeira e bambu e palito de dente; • Filtros e sachês no geral, entre outros. Também é bom lembrar de sempre revirar a composteira seca, a fim de oxigenar a mistura e, assim, potencializar a decomposição. Por outro lado, estão totalmente proibidos na composteira: • Plantas doentes; • Óleo vegetal; • Vidros, plásticos, metais e outros materiais recicláveis; • Lixo de banheiro; • Isopor; • Pilhas e baterias velhas; • Cápsulas de café; • Papel de revistas que são laminadas. Por fim, é bom sempre observar se a composteira não está atraindo insetos, larvas ou outras formas de vida indesejáveis, de modo a não haver contaminações ou vetores de doenças transmissíveis em casa. Tomando todos esses cuidados, há a garantia de que os resíduos que seriam descartados na natureza sejam transformados em adubo e gerem mais vida! |