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Colorir para desacelerar: o fenômeno Bobbie Goods

set 2025

Por Maysa Falcão

Em um mundo em que tudo pede pressa e conexão constante, um movimento silencioso (e colorido) ganha força: o prazer de parar para desenhar. Livros de colorir, antes vistos como passatempo infantil, se transformaram em aliados contra o cansaço digital — e nenhum exemplo ilustra isso tão bem quanto o fenômeno Bobbie Goods.

Criada pela ilustradora norte-americana Abbie Goveia, a coleção tem algo de intimista e quase terapêutico. Suas cenas “fofinhas” — animais, brinquedos, cômodos acolhedores — parecem nos dar licença para imaginar outras histórias enquanto cada traço é preenchido. “Cada linha é desenhada à mão com amor e muita atenção”, diz Abbie, que não esperava ver suas criações virarem febre mundial.

No Brasil, a febre é real e medível: mais de 1 milhão de exemplares vendidos em apenas quatro meses. Mas mais do que o sucesso comercial, chama atenção o desejo por algo tão simples. Uma pausa. Um momento para si. Uma maneira de se desconectar das telas e se reconectar com algo manual, lento e pessoal.

“Pintar sempre foi o meu refúgio. Enquanto outras crianças passavam as tardes em jogos de vídeo game, eu me encantava com os pincéis, as cores e aquele silêncio criativo que só quem pinta conhece. Ao longo dos anos, mesmo com a correria da vida adulta, nunca deixei esse hobby completamente de lado, ele sempre foi meu cantinho de paz. Mais recentemente, redescobri esse prazer ao começar a pintar ilustrações da Bobbie Goods. Tudo começou de forma despretensiosa, como uma curiosidade quando comprei o livro para meu filho e me sentei com ele para lhe dar ideias de ‘técnicas’ para dar estilo aos desenhos, mas logo virou um verdadeiro refúgio para a mente.” — Aline Romanini, moradora de São Carlos.

Mais que passatempo: um ritual contra a pressa

É um reflexo de uma busca mais ampla: alternativas à ansiedade que o digital provoca. Dados da HarperCollins Brasil mostram que as vendas dos livros de colorir impulsionaram todo o setor editorial. A Faber-Castell viu a venda de materiais específicos crescer quase 300% em apenas um mês. Redes sociais como TikTok e Instagram, curiosamente, são palco de tutoriais que ensinam a sombrear, misturar cores, transformar o ato de colorir em quase um ritual.

Em São Paulo, o “1º Encontro Bobbie Goods”, que aconteceu em junho, reuniu entusiastas em oficinas gratuitas — uma cena que resume o espírito do fenômeno: digital e presencial se misturam para formar uma comunidade. É arte, mas também terapia. Um jeito de resistir à velocidade imposta por notificações e algoritmos.

Especialistas como a presidente da Câmara Brasileira do Livro, Sevani Matos, veem nisso um movimento cultural. “Esses livros dialogam com a demanda por bem-estar, desaceleração e expressão criativa”, diz.

Colorir é mais do que preencher espaços: ajuda a organizar pensamentos, elaborar sentimentos, dar vazão à imaginação. Em outras palavras, uma forma de cuidado.

Esse fenômeno não se limita ao Brasil. Em vários países, os livros de colorir para adultos vêm sendo adotados como recurso terapêutico em clínicas, empresas e até escolas. Psicólogos apontam que atividades manuais, como pintar, ajudam a reduzir os níveis de cortisol — o hormônio do estresse — e estimulam áreas do cérebro relacionadas ao foco e à memória. Além disso, a prática favorece momentos de introspecção e autoconhecimento, especialmente em tempos em que a hiperconectividade dificulta pausas genuínas no cotidiano.

Os traços delicados das personagens, as expressões suaves e os detalhes encantadores despertam uma vontade quase imediata de dar vida àquelas cenas com cores, e cada imagem que termino é como um pequeno respiro da alma. “A arte, para mim, sempre foi isso: uma forma de desacelerar, de me escutar e de transformar sentimentos em cor. E poder viver isso novamente, mesmo que entre uma tarefa e outra do dia a dia, é um presente”, concluiu Aline.

Talvez esse seja o verdadeiro valor por trás de cada página colorida: um lembrete de que o tempo é nosso para ser vivido — com cor, paciência e criatividade.

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