Por Luciana Mendonça
Quem passou pelos bancos escolares sem fazer um trabalho de “recorta e cola” não viveu! Exageros à parte, a atividade é bastante comum no início da vida estudantil por auxiliar no desenvolvimento da psicomotricidade, do processo cognitivo, além de desenvolver o senso estético.
Embora seja um recurso antigo, a colagem só passou a ser incorporada à arte no século XX, mais especificamente nos movimentos como cubismo, surrealismo, dadaísmo, futurismo e, mais adiante, a arte pop.

O nome da técnica deriva da palavra “coller” e pode ser definida como uma composição artística feita com o uso de vários materiais colados sobre uma superfície. Para quem trabalha com colagem, a técnica diferencia-se das demais expressões artísticas por permitir a utilização de materiais diversos, criando novas possibilidades de produtos artísticos em três dimensões, dispensando a necessidade do uso de tela.
É o que explica Carol Nazatto, artista plástica e colagista analógica e digital. “A colagem passa a ser uma possibilidade artística quando Pablo Picasso e Georges Braque fundam o cubismo e passam a usar, inicialmente, recortes de jornal nas telas. A simplicidade do processo foi dando desdobramentos à técnica, que começou a ser ensinada na Bauhaus, importante escola de arquitetura e artes alemã”, explica Nazatto.
Assim, aos poucos os artistas começam a utilizar materiais não convencionais para as técnicas de pintura da época, extrapolando o uso da tela em branco e trabalhando com as diversas possibilidades que a colagem oferece.
Com uma identidade visual fragmentada desde o início do cubismo, os artistas passaram a se apropriar de objetos do dia a dia. Enquanto Braque usava areia misturada em sua tinta para trabalhar a textura em sua pintura; Picasso enveredou para a utilização de papel em suas telas.

A colagem e as mulheres
A partir do momento que a colagem aparece no cubismo, ela se populariza no meio artístico com destaque para o dadaísmo, com Marcel Duchamp e Francis Picabia, que radicalizam a técnica “quebrando o que eles consideravam uma rigidez cubista”, conta Nazatto.
Interessante pontuar que quando a colagem passa a ser ensinada na Bauhaus, ela é adotada por muitas artistas mulheres, como Marianne Brandt e Grete Reichardt. “Quando a técnica chega a Bauhaus, ela já era conhecida das mulheres. Isso porque ela é muito simples, não requer aulas ou professores. Considero a colagem uma técnica muito democrática e até intuitiva, então, quando ela passa a ser oferecida em oficinas, tem grande adesão das artistas mulheres”, frisa Nazatto.
Entre as mulheres que se destacam nesse início da colagem, está a artista alemã Hannah Höch, considerada uma das mais importantes representantes do movimento dadaísta e uma das pioneiras da colagem.
Muitos dos trabalhos de Höch apresentam reflexões sobre como as mulheres eram vistas enquanto seres incompletos e sem controle sobre suas vidas. A artista também foi pioneira ao criticar de maneira irônica a indústria da beleza, que vinha ganhando impulso nos meios de comunicação de massa graças à ascensão da moda e da fotografia publicitária; bem como produziu trabalhos que ficaram conhecidos por denunciar a discriminação racial.

Colagem nos dias atuais
A colagem chega na arte contemporânea já consolidada como técnica e ganha diferentes possibilidades a partir do advento da computação gráfica, extrapolando os meios analógicos para adentrar o digital, “no qual as possibilidades de experimentação tornam-se infinitas”, ressalta Nazatto.






Apesar de a colagem digital ter ganhado força com a tecnologia, as técnicas seguem coexistindo, com muitos artistas utilizando ambas em seus trabalhos. “A diferença entre a chamada colagem analógica e a colagem digital é que a primeira fazia uso de recortes de revistas e jornais, papéis diversos e fotografias. Com a colagem digital, levamos a colagem ao extremo, já que ganhamos a possibilidade de manipular as imagens de formas mais drásticas, podendo alterá-las para além do recorta-e-cola, podendo desfazer sempre que não gostarmos dos resultados”, finaliza a artista.
Para conhecer
Conheça o perfil, no Instagram, de algumas artistas da atualidade que trabalham com colagem analógica ou digital: