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Alimentos orgânicos na mira do consumidor: produção e consumo conscientes, sustentáveis e de qualidade

Cresce a procura por alimentação mais saudável, em benefício da saúde e do meio ambiente

Por Emerson Luchesi

Hora de fazer a feira e selecionar os melhores itens para as refeições diárias: batatas para aquela receita especial; tomate para o molho clássico; alface, rúcula e cheiro-verde pensando na salada fitness; couve-flor, brócolis, cenoura e demais verduras e legumes visando abrilhantar o prato. Para o café da manhã ou sobremesa, morango, maçã, banana, pera, iogurte e outros derivados do leite são os principais itens incluídos no carrinho de compras, deixando-o mais colorido e diversificado. Ovos, cereais, sucos e tantos outros produtos estão nas listas de compras e são indispensáveis ao nosso consumo.

Vários cachos de bananas orgânicas
Créditos: Luana Serrenho

A quem tem ou está em busca de uma alimentação regrada e balanceada, muitas são as opções disponíveis. Mas você conhece a procedência e a forma de cultivo desses e de outros produtos que você leva diariamente para a sua mesa? Será mesmo que aqueles provenientes da agricultura convencional são 100% saudáveis e seguros?

A agricultura convencional, predominante no Brasil e no mundo, utiliza em seu manejo insumos sintéticos, como agroquímicos e fertilizantes, o que põe em risco a saúde humana e o meio ambiente, como nascentes, rios, solo, matas nativas e seres vivos em geral. Além disso, uma das características desse modelo é a produção em larga escala, o que estimula o uso de maquinários e equipamentos modernos visando a alta produtividade.

Na contramão desse formato arriscado e preocupante, destaca-se a cultura chamada de orgânica. A procura por itens desse tipo, intencionando uma alimentação mais saudável, tem se tornado uma tendência mundial. As pessoas estão cada vez mais atentas a tudo que consomem, prezando por alimentos naturais, com produção orgânica e sustentável, e tendo como prioridade os cuidados com a própria saúde e o bem-estar do nosso planeta.

Mas o que são os produtos orgânicos? 

Os alimentos orgânicos são cultivados sem a utilização de agrotóxicos, pesticidas, conservantes, adubos químicos e a presença de organismos geneticamente modificados. O sistema de produção valoriza os métodos naturais, como adubação orgânica, controle biológico de pragas e rotação de culturas, visando a sustentabilidade no campo e a preservação do meio ambiente.

Desse modo, esses produtos são mais seguros à saúde humana, ao solo, aos animais e à natureza em geral. Diferentemente dos alimentos convencionais, eles são capazes de oferecer maior valor nutritivo devido a seu processo de produção natural. Os orgânicos podem ser desde legumes, frutas e hortaliças até carnes, leite e derivados, vinhos, óleos, farinhas, cereais, açúcar, entre outros.

Grãos orgânicos em uma prateleira.
Créditos: Luana Serrenho

Com o crescente número de adeptos, o mercado desse sistema de produção tem aumentado significativamente nos últimos anos. Atualmente, o Brasil é o quarto maior consumidor de itens naturais do mundo, com cerca de 20 mil agricultores familiares certificados como produtores orgânicos. 

Segundo Maurílio Silva, um dos proprietários da empresa Orgânicos São Carlos, a procura por esses itens já demonstrava uma progressão, mas aumentou ainda mais após a pandemia. De acordo com dados de uma pesquisa do Instituto Organis, de  2021 a 2023, a demanda por orgânicos no país teve um acréscimo de 16%. Além disso, os dados apontaram que quase 46% da população brasileira afirma ter consumido produtos desse tipo, sendo 36% nos 30 dias que antecederam a pesquisa e 10% nos últimos seis meses.

Perto da grande potência de produção agrícola do extenso território brasileiro, esses números são relativamente baixos. O que impera no país ainda é a agricultura convencional em larga escala. No entanto, o cenário é promissor, na medida em que muitos produtores estão se adaptando ao sistema orgânico, tendo em vista a alta procura e as vantagens do modelo sustentável – paulatinamente mais valorizado pelos consumidores.

Por conta disso, encontrar produtos orgânicos tem sido cada vez mais fácil. Atualmente é possível achá-los em supermercados, feiras, lojas de produtos naturais ou diretamente com o produtor rural.

Orgânicos São Carlos: uma opção para quem quer comer bem

Maurílio Eduardo da Silva e sua esposa Juliana da Silva – ele engenheiro agrícola e ela engenheira agrônoma – são proprietários da Orgânicos São Carlos há 14 anos. Além da loja, o casal possui uma pequena horta ecológica onde cultiva alimentos orgânicos que são comercializados pelo estabelecimento.

A empresa trabalha com produtos orgânicos certificados e de qualidade, além de itens naturais, sem açúcar, glúten e/ou lactose. São ofertados desde frutas, verduras, legumes, ovos e laticínios fresquinhos até cereais, grãos, geleias, doces, molhos, sucos, conservas, chás, frangos Korin, alimentos vegetarianos e muitos outros produtos.

Créditos: Luana Serrenho

O engenheiro agrícola conta que a loja é praticamente um minimercado, devido à grande variedade de itens, como os de hortifrúti, fornecidos por agricultores locais e de outras regiões vizinhas. Demais tipos de produtos, como os grãos e cereais, são adquiridos de produtores de diversas regiões do país, do Rio Grande do Sul ao Amazonas.

“Nós vendemos produtos orgânicos certificados provenientes de vários produtores. Eles vêm de São Paulo, de produtores da região, da minha horta e da horta de produtores parceiros também. A parte de hortifrúti é toda agroecológica orgânica, não vendemos de forma convencional”, conta Maurílio.

O proprietário afirma que prioriza a compra de produtos da região, de produtores que atuem o mais próximo possível, a fim de fomentar a produção local (que é o ideal) e fornecer itens mais frescos aos consumidores. Além disso, com o intuito de proporcionar mais comodidade aos clientes, o negócio conta com sistema de entrega.

Benefícios à saúde, ao meio ambiente e à economia local

Consumir produtos orgânicos envolve uma série de vantagens, as quais englobam desde os ganhos comprovados à saúde humana até aqueles socioambientais e econômicos. Saber a procedência do que se come é certamente um dos grandes pontos positivos.

De acordo com Maurílio, primeiramente, um dos benefícios é a segurança que a pessoa tem em ingerir alimentos naturais sem se preocupar com a presença de qualquer tipo de químico em seu cultivo. Segundo o engenheiro, muitos agroquímicos utilizados na agricultura convencional agridem o meio ambiente e são danosos principalmente à saúde humana, contudo, são invisíveis aos olhos do consumidor.

Cenouras de diversas cores
Créditos: Luana Serrenho

“O orgânico, por ser um produto artesanal, ele preza também pela saúde do solo, porque, na verdade, a disponibilidade de nutrientes não está só relacionada à utilização de adubo, mas sim ao cultivo de um solo sadio, onde os microrganismos é que liberam os nutrientes”, revela. Assim, por ter um solo vivo, a produção orgânica também proporciona um alimento muito mais rico em termos nutricionais.

Se abordarmos o aspecto social, as vantagens se destacam através do consumo de produtos da cidade e da região, de forma a colaborar para a fixação do homem no campo e contribuir para o seu desenvolvimento. Assim, além de se adquirirem itens frescos e de qualidade comprovada, com a produção e o consumo local, cresce também a economia do município.

“Basicamente, o orgânico é isso: produzir conservando o solo e a natureza. Isso tudo não só envolve a saúde humana, mas a economia da cidade, a valorização do homem do campo e a preservação do meio ambiente. O orgânico preza pela produção sadia e limpa e está dentro da agroecologia, que é compreender o respeito e cuidado com a natureza junto com uma produção orgânica, responsável e sustentável”, ressalta Maurílio.

Com isso, os benefícios ao meio ambiente também são enormes. Ao não se empregarem produtos químicos na produção, não se gera contaminação dos recursos naturais, como solo, rios, nascentes, assim como não se agridem os seres vivos presentes no ecossistema.

“Recuperar áreas degradadas também envolve a agroecologia. E não é só usar a terra, temos que deixá-la produtiva para as próximas gerações. Assim, devemos ser cada vez mais sustentáveis”, destaca o engenheiro.

Certificação orgânica 

Para que os alimentos orgânicos sejam devidamente reconhecidos, é necessário o selo de identificação. Este é fornecido através de um processo de certificação voltado à validação de que tais itens são cultivados com responsabilidade e isentos de agroquímicos.

De acordo com Maurílio, há duas formas de certificação. Uma delas ocorre por meio de uma empresa certificadora, a qual realiza uma auditoria enviando um fiscal no local da produção, percorrendo toda a horta e fazendo as orientações do que pode ser usado no cultivo. A outra é a certificação participativa, que é quando um agricultor se une a outros produtores agroecológicos e obtém uma certificação governamental. No entanto, nesta modalidade, é necessário formar uma cooperativa. Além disso,  se um produtor convencional quiser passar para o sistema orgânico, o procedimento é um pouco mais longo, porque envolve a etapa de detox da área.

Verduras orgânicas
Créditos: Luana Serrenho

O engenheiro agrícola também destaca que, além de todo esse processo, só o fato de se conhecer o produtor e sua forma de produção já pode gerar maior confiabilidade. Quem entra na Orgânicos São Carlos consegue ter acesso a diversos tipos de produtos comprovadamente orgânicos, frescos e com aparência convidativa ao consumo. Apresentados em várias repartições à disposição dos clientes, os itens chamam a atenção pela beleza e pela qualidade por trás de seu cultivo. Muitos frequentadores do estabelecimento são fiéis consumidores pelo fato de conhecerem a procedência do que levam para as suas casas.

Adicionalmente, quem compra da loja consegue conferir a certificação de cada produtor que fornece os alimentos. “Nós disponibilizamos esses certificados, inclusive os agroecológicos – que não possuem certificação feita por meio dessas empresas. Em produtos industrializados, há um selo do SisOrg (Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica), que indica que o produto é orgânico”, revela o comerciante. 

Vale ressaltar que o modelo agroecológico é um sistema de cultivo dentro dos padrões orgânicos, mas que não possui certificação convencional, em virtude do tamanho reduzido das produções. Todos os fornecedores agroecológicos da Orgânicos São Carlos são regionais, conhecidos e de confiança.

Os passos para o acesso democrático aos produtos orgânicos 

De acordo com pesquisas, diversas doenças estão relacionadas ao consumo de alimentos produzidos com a utilização de agrotóxicos. Nesse sentido, conforme Maurílio, é imprescindível um trabalho de base nas escolas, desde os primeiros anos, com o objetivo de ensinar como é importante comer bem, de maneira correta. Ou seja, é fundamental conscientizar os indivíduos, a partir da mais tenra idade, acerca da importância de se produzir e consumir orgânicos.

Além disso, valorizar os produtores e o acesso mais democrático aos orgânicos são algumas das medidas para que esses itens sejam mais acessíveis e estejam mais presentes na mesa e no prato da população. Os custos elevados para obter a certificação são um dos fatores que pesam no bolso do agricultor, refletindo no preço final dos alimentos. Somados aos gastos com os investimentos em uma produção mais lenta em relação à convencional e de baixa escala, eles fazem com que os orgânicos sejam mais caros. Isso, por sua vez, torna-se um obstáculo para o acesso a eles e, consequentemente, para o aumento do consumo.

Frutas orgânicas.
Créditos: Luana Serrenho

De acordo com o empreendedor, arcar com os elevados custos de certificação inviabiliza principalmente o pequeno agricultor, sendo que uma das alternativas é se unir a outros produtores da região. Outra opção seria o apoio do setor público. “Se existisse um fomento governamental, onde o produtor não tivesse que pagar a certificação, isso ajudaria muito na redução dos preços e no incentivo à produção de orgânicos”, ele ainda sugere. 

Mesmo diante de um alimento mais caro, produtores e consumidores têm enxergado o potencial e os benefícios de uma produção ética, sustentável e saudável, que coopera para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. 

A preocupação com a saúde e com a preservação dos recursos naturais têm sido os principais fatores da crescente busca pela alimentação orgânica, o que faz desse setor um mercado promissor e de constante crescimento. É necessário estimular cada vez mais essa cultura e expandir o acesso a esses produtos, de maneira a fomentar o consumo consciente, responsável e sustentável.

A Orgânicos São Carlos está localizada na Rua Oscar de Souza Geribelo, 253 – Bairro Santa Paula – São Carlos/SP.

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