Por Emerson Luchesi
O que fazer com aquele aparelho que parou de funcionar e não tem mais conserto? Quebrou e ficou mais fácil adquirir um novo do que consertar o velho, que acabou encostado sem nenhuma utilidade? Acontece por aí, não é mesmo?
Certamente você deve ter em casa algum produto eletrônico que não usa mais, seja um televisor antigo, um celular quebrado que foi substituído por um novo, um computador antigo ou um eletrodoméstico quebrado. Todo esse material é considerado lixo por conta da sua inutilidade.
Entretanto, trata-se de um lixo totalmente diferente do que comumente produzimos. O lixo eletroeletrônico tem em sua composição componentes danosos ao meio ambiente, como metais pesados, plástico, entre outros. Com o aumento expressivo desses produtos nos lares de todo o mundo, surgem a grande preocupação e o desafio do descarte apropriado desse tipo de material que se torna lixo quando atinge sua vida útil. O problema também está em fazer o descarte correto, tarefa desconhecida por muitos de nós.
É importante não só saber, mas também fazer o descarte certo de qualquer resíduo, principalmente dos materiais eletroeletrônicos que não são produtos tão fáceis de serem reciclados, mas que necessitam de um tratamento adequado para reduzir os impactos causados na saúde humana e no meio ambiente.

Para se ter uma noção da proporção desse tipo de lixo, só no ano de 2020 foram cerca de 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico produzido no mundo. O Brasil é um dos cinco países que mais produz lixo eletrônico, coletando 1,2 mil toneladas de lixo eletrônico no ano de 2021, dos quais um baixíssimo percentual torna-se lixo eletrônico reciclado. Tratar corretamente estes resíduos depende da seriedade de políticas públicas e do nosso compromisso e responsabilidade com a manutenção da vida no nosso planeta.
Um importante trabalho e um enorme desafio: a reciclagem do lixo eletroeletrônico
Para entender um pouco mais sobre esse importante trabalho conversamos com Helen Brito, gerente de Relações Institucionais da ABREE (Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos). A ABREE é uma associação sem fins lucrativos que visa garantir o descarte correto de produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos pós-consumo no Brasil. A entidade é responsável pela implementação e operacionalização da logística reversa dos eletroeletrônicos e eletrodomésticos no Brasil, um trabalho importantíssimo e necessário que enfrenta grandes desafios.
A ABREE tem um pouco mais de 4.700 pontos de recebimento em todo o Brasil, em todos os estados e em quase 1.400 municípios. Além de informações sobre o descarte correto de produtos eletroeletrônicos, o site disponibiliza a busca dos pontos de recebimento mais próximos do seu endereço, basta informar o CEP e o tipo de produto que deseja descartar.
“O descarte correto tem que acontecer nesses pontos habilitados para receber esses eletroeletrônicos. Após isso, o produto é retirado do local de recebimento e levado para uma empresa de manufatura reversa que vai descaracterizar o produto, vai abri-lo e separar os componentes, como o plástico e o alumínio. Depois ele é processado e as empresas destinam cada componente para o seu setor específico, o plástico vai para uma empresa, o alumínio para outra e assim por diante. Esse é o processo de reciclagem”, explica Helen Brito.
A gerente de relações institucionais comenta que hoje a entidade conta com 58 empresas associadas que representam cerca de 189 marcas que são fabricantes e importadores de eletroeletrônicos no Brasil. Essas empresas fazem o custeio de toda a operação e em conjunto são responsáveis pelos custos da operação de logística reversa que é o processo que compreende a fase do descarte à descaracterização do produto.

“Como somos uma entidade gestora, fazemos através de prestadores de serviço e também de parceiros como varejistas, que são os principais pontos de recebimentos que temos que coletam os resíduos eletrônicos”, explica a gerente.
A entidade também trabalha, de um modo geral, com prestadores de serviços que efetivamente coletam os eletroeletrônicos, alguns deles apenas armazenam temporariamente o material. Outras empresas, chamadas de empresas de manufatura reversa, recebem o eletroeletrônico, descaracterizam-no, desmontam, fazem a trituração para que cada componente vá para cada uma de suas cadeias, podendo até voltar a ser um eletroeletrônico novo no futuro. Reciclagem, portanto, é o processo em que omaterial é utilizado na construção de um novo produto ou como parte de um novo processo.
“Basicamente, o que a gente faz é isso: no dia a dia a gente opera para receber do consumidor esses eletroeletrônicos que já não têm mais vida útil e dar esse tratamento para garantir a destinação final correta”, destaca a gerente.
Desafios para implementação do processo de reciclagem dos resíduos eletrônicos no Brasil
Sabia que os eletroeletrônicos são divididos em linhas? Os chamados linha branca são geladeiras, fogões, máquinas de lavar, ar-condicionado etc. A linha verde são os eletrônicos da área da informática e telefonia, tais como computadores e celulares; a linha marrom compreende áudio e vídeo como televisores, rádios, filmadoras e DVDs e a linha azul é formada pelos eletroportáteis como secadores de cabelo a outros equipamentos de pequeno porte como liquidificadores, batedeiras, mixers, cafeteiras etc. “Uma vez que eles chegam no fim de vida, ou seja, de alguma forma você não consegue mais consertá-lo, ele já tem que ser descartado. Então ele se torna um lixo eletrônico e você deve saber onde de fato ele pode ser descartado”, salienta a gerente.
O problema do lixo eletrônico está presente em todo o mundo. Helen comenta que no Brasil a legislação é super recente. O Decreto Federal 10.240/2020, uma iniciativa bem inicial que tem crescido gradativamente, é o que hoje rege a legislação que trata da logística reversa dos eletroeletrônicos no país.
A gerente da associação explica que os produtos eletrônicos mais descartados pertencem à linha branca (em relação a volume), porém os da linha verde (itens de informática e telefonia) têm crescido bastante, apresentando o maior percentual de descarte em crescimento nos últimos tempos. Isso se explica pelo fato de haver um grande consumo de produtos desta linha, conforme a tecnologia avança e as pessoas vão trocando os aparelhos – principalmente smartphones e notebooks – por itens mais modernos e se desfazendo com facilidade dos produtos antigos que se tornam obsoletos, seja pelo fato de apresentarem problemas irreparáveis ou pelo fato de um produto se tornar ultrapassado.

O maior desafio é o consumidor descartar corretamente esses produtos nos pontos habilitados disponíveis. O consumidor precisa e tem a obrigação de pegar o produto e levar para o ponto de descarte para que ocorra o processo de logística reversa. “O maior desafio é essa cultura que ainda não temos do descarte correto desse material, pois ainda é algo muito inicial. As pessoas não têm muitas vezes o conhecimento de que um fone de ouvido não pode ser descartado no lixo comum “, revela.
Uma dificuldade que Helen também destaca é fechar as parcerias e o apoio com os comerciantes distribuidores, que também têm uma responsabilidade compartilhada de acordo com o decreto. Contudo, há grande dificuldade de ter a colaboração e fechar acordos para que possam trabalhar em conjunto e acessar um número maior de consumidores.
Dada a importância desse trabalho, é necessário que o consumidor se informe mais sobre o assunto com o objetivo de entender e disseminar informações corretas a respeito do descarte adequado dos materiais eletroeletrônicos, praticando de fato o exercício desse descarte nos locais indicados para que mais produtos sejam reciclados.
Essa iniciativa deve ganhar cada vez mais espaço e proporção na medida em que o consumidor se conscientizar da importância desse serviço e tornar a reciclagem um hábito de todos.
Conheça o ponto de descarte do lixo eletroeletrônico mais perto de você.
Digite o CEP e o produto que deseja descartar. Pronto! Agora é só levar o material!
Linha | Produtos |
Branca | Geladeiras, freezers, fogões, máquinas de lavar, ar-condicionado, entre outros. |
Verde | Celulares, tablets, computadores, impressoras, acessórios de informática, entre outros. |
Marrom | Monitores, televisores, aparelhos de DVDs, filmadoras, câmeras, aparelhos de áudio, entre outros. |
Azul | Liquidificadores, batedeiras, ferros elétricos, secadores de cabelo, aspiradores de pó, ventiladores, entre outros. |