Por Emerson Luchesi
Você já deve ter ouvido falar sobre a implementação da tecnologia 5G no Brasil e no mundo e se questionado sobre as mudanças que ela traz, bem como quais são suas consequências e vantagens. Para quem não é muito familiarizado com as questões que envolvem as últimas novidades tecnológicas, certamente devem surgir muitas dúvidas a respeito do assunto.
O que é 5G? O que vai mudar? Quais as suas vantagens? Essas são algumas das perguntas mais frequentes sobre o tema.
As tecnologias atuais, em constante inovação, necessitam de “meios” cada vez mais sofisticados para funcionarem. Assim, as redes móveis continuam se desenvolvendo para atender às demandas contemporâneas, como maior velocidade de conexão e maior número de pessoas conectadas simultaneamente em um mesmo local e rede.

Nos últimos anos, muito se tem comentado sobre a implementação do 5G no país. Trata-se da quinta geração da tecnologia de redes móveis, a qual se destaca por oferecer maior velocidade de conexão para download e upload, em comparação à rede 4G, além de mais estabilidade na conexão, melhora da qualidade das videochamadas, menor latência (tempo de resposta) e redução do consumo de energia dos aparelhos, entre outros benefícios.
Várias cidades do Brasil já contam com essa nova tecnologia. Segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), ela estará à disposição dos usuários de todos os municípios brasileiros até 2029.
Assim, esse novo padrão de internet móvel sem fio promete revolucionar vários setores da economia, conectando não só pessoas, mas também diversos objetos. Isso porque o 5G proporcionará muito mais espaço para conectar uma série de itens à internet, como inúmeros equipamentos e dispositivos.
A nova geração da rede móvel de internet: conectividade ágil e moderna
Pensando na maior compreensão sobre o tema, elaboramos uma matéria em formato de entrevista, com foco em esclarecer pontos importantes acerca dessa tecnologia. Para isso, conversamos com um especialista no assunto, o professor Leonardo Lira Ramalho, engenheiro de computação.
Leonardo Ramalho possui doutorado em Engenharia Elétrica com ênfase em Telecomunicações pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente, é vice-diretor da Faculdade de Engenharia da Computação e Telecomunicações e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFPA. O professor também atua em projetos de pesquisa e desenvolvimento nas áreas de telecomunicações, processamento de sinais e sistemas eletrônicos embarcados, em parceria com empresas e institutos de investigação.

Como funciona a tecnologia 5G?
Dr. Leonardo Lira: O termo 5G refere-se à quinta geração de telefonia celular que opera com comunicação sem fio, geralmente fornecida por uma operadora para prover conectividade a smartphones. No entanto, a tecnologia 5G também pode ser usada para conectar outros tipos de dispositivos sem fios, como carros autônomos, eletrodomésticos ou máquinas industriais.
Para o usuário final, o 5G funciona de maneira similar às gerações anteriores (4G, 3G etc.) em vários aspectos, sendo necessário um smartphone ou modem para se conectar em uma rede desse tipo. No entanto, cabe destacar que a quinta geração da tecnologia aprimorou vários aspectos técnicos em relação à quarta.
Quais as vantagens do 5G?
Dr. Leonardo Lira: A tecnologia 5G avançou em três grandes áreas nas comunicações móveis, as quais podem ser citadas como as suas principais vantagens, mas não limitadas a elas:
A primeira são as altas taxas de transferência de dados no downlink (da rede para o usuário) e no uplink (do usuário para a rede), o que é conhecido como Banda Larga Móvel Avançada ou eMBB (sigla em inglês para enhanced Mobile Broadband).
Outra vantagem é a capacidade de oferecer comunicações de alta confiabilidade e baixa latência, também conhecida como URLLC (do inglês, Ultra-Reliable Low Latency Communications). Nesse caso, “alta confiabilidade” significa que a taxa de erro na transferência de dados é muito pequena e “baixa latência” quer dizer que o tempo de resposta da rede também é muito curto, na faixa de alguns milissegundos, ou menor. As redes URLLC são importantes para aplicações críticas que exigem baixas taxas de erros ou que o tempo de resposta da rede não seja tolerável, como carros autônomos, cirurgias remotas e controle remoto de equipamentos industriais.

Por fim, a terceira grande vantagem é conhecida por mMTC (do inglês, massive Machine Type Communications). Basicamente, esta é a capacidade da rede de fornecer conexão a um grande volume de dispositivos autônomos e que tais equipamentos possam operar com baixo consumo energético. Espera-se que as redes 5G consigam suportar mais de um milhão de dispositivos por km2 e que esses itens tenham um tempo de vida das baterias de até 10 anos. Nesse caso, a principal aplicação é conhecida como Internet das Coisas (IoT), em que dispositivos podem coletar informações do mundo real e transmitir para a rede ou receber comandos da rede e tomar alguma ação.
Exemplos de Internet das Coisas podem ser encontrados em casas inteligentes, nas quais eletrodomésticos possuem a capacidade de se comunicar com a rede 5G, ou mesmo em cidades inteligentes, onde dispositivos espalhados pela localidade também podem usar o 5G para colher informações da região e eventualmente ajudar a controlar algum aspecto, como em semáforos e alarmes.
Qual a diferença entre o 4G e o 5G?
Dr. Leonardo Lira: Existem várias diferenças de cunho técnico em relação às redes de quarta geração (4G), o que garante as vantagens citadas anteriormente. Uma grande distinção é o uso de frequências de mais amplitude, o que possibilita também a utilização de larguras de banda maiores e antenas menores.
Uma maior largura de banda permite a passagem de um tráfego de dados mais volumoso pela rede sem fio. E o uso de antenas menores torna mais fácil a instalação de novas células ou mesmo de redes temporárias para atender a shows ou jogos de futebol, por exemplo, onde há uma expressiva concentração de pessoas por um curto período de tempo.
Apesar das diferenças, cabe ressaltar que o 5G é uma evolução do 4G e diversos aspectos técnicos ainda são bem similares. As redes de quinta geração reutilizaram o que funcionou bem no 4G e aprimoraram outros pontos.
Quais as principais mudanças com a implementação do 5G?
Dr. Leonardo Lira: O 5G pode trazer várias vantagens para o usuário final, conforme citado anteriormente, mas, por se tratar de uma nova tecnologia, é provável que muitos smartphones ainda não tenham acesso a ela. Então, é importante verificar se o seu telefone consegue se conectar a essa rede.
Para as operadoras, há a possibilidade de operar em novas frequências e fornecer melhores serviços de comunicação para a população, bem como outros tipos de serviços que exigem um grande volume de dispositivos conectados ou comunicações de alta confiabilidade e baixa latência. Com as capacidades da rede 5G, é esperado que diferentes aplicações surjam ou sejam aprimoradas.
Como é o cenário do 5G no Brasil? É uma rede “acessível”?
Dr. Leonardo Lira: A rede 5G é acessível principalmente nas capitais e no Distrito Federal. A Anatel estabeleceu um cronograma de implementação dessa tecnologia no Brasil, que deve ser cumprido pelas empresas que participaram do Leilão do 5G.
Tal cronograma iniciou-se em 2022 e as primeiras metas correspondem ao atendimento das capitais e do Distrito Federal. Exemplificando, a próxima ação do calendário é que, até 31/07/2024, essas regiões possam ter pelo menos uma antena 5G para cada 30 mil habitantes. Porém, cabe ressaltar que várias operadoras expandiram suas ações para além do que foi estabelecido no cronograma, com grandes cidades do interior do Brasil já sendo atendidas pelas redes 5G, por exemplo.
Traduzindo a linguagem técnica
Dr. Leonardo Lira: O 5G utiliza frequências específicas do espectro eletromagnético para transmitir dados. Podemos entender a frequência como sendo uma estrada e a largura de banda como sendo a largura dessa estrada. Ao se utilizarem estradas mais largas, mais carros podem passar pelo mesmo caminho simultaneamente. De maneira similar, quando essa tecnologia usa uma largura de banda maior, ela admite que mais dados passem ao mesmo tempo na frequência (“estrada”) pela qual o 5G foi implantado.
Além disso, continuando nesse paralelo com uma estrada, podemos dizer que a tecnologia 5G pavimentou o caminho com um modelo de pista especial que pode ser transformada, com segurança, de acordo com o tipo de veículo que vai passar. Assim, permite-se que uma mesma estrada viabilize o deslocamento de pedestres, bicicletas, carros, caminhões e trens. Ou seja, o 5G possibilita que a rede dê suporte a dispositivos ou aplicações distintas, que exigem uma grande taxa de dados, comunicações ultraconfiáveis e de baixa latência, além de permitir que uma quantidade avantajada de equipamentos possa usar a mesma rede.
Por fim, haverá evolução do 5G?
Dr. Leonardo Lira: Os requisitos para especificar o que é uma rede ou tecnologia 5G são definidos pelo ITU (International Telecommunication Union), uma agência da ONU responsável pelas regulamentações e padronizações de telecomunicações no âmbito global. O ITU define os requisitos, mas quem de fato desenvolve a tecnologia é um outro grupo de organizações, representado pelo 3GPP (3rd Generation Partnership Project). A primeira padronização do 5G foi lançada em 2017 e segue evoluindo em reuniões periódicas conduzidas pelo grupo. Dessa maneira, a tecnologia ainda continuará avançando, permitindo melhores condições de comunicação e a pavimentação para as redes de sexta geração (6G), que se pretende implementar em meados de 2030.