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Conheça técnica da Bioconstrução, que alia arquitetura e sustentabilidade

Como uma alternativa à construção civil tradicional e visando atender à demanda pela sustentabilidade, a bioconstrução se destaca

Por Edmar Neves

Tudo começa no sonhar.

O surgimento de países, as ideologias políticas, os movimentos sociais, os avanços tecnológicos, os grandes monumentos, as guerras e a paz, os pequenos projetos pessoais… O ato de sonhar é sempre o primeiro passo, a motivação essencial para a materialização das nossas vontades. 

Para muitos, a realização de um sonho é a conquista da casa própria. E, na hora de tirar essa aspiração do papel, a atenção à sustentabilidade tem se destacado. Junto do planejamento financeiro, da compra do imóvel ou do terreno e do projeto arquitetônico, cada vez mais pessoas estão levando em consideração os danos ambientais causados pelo processo de edificação.

Essa preocupação é compreensível, afinal de contas, a construção civil causa impactos severos no meio ambiente. Como aponta um levantamento feito pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a construção e a manutenção de edifícios foram responsáveis, em 2021, por cerca de 37% das emissões globais de CO2. Adicionalmente, responderam pelo consumo de mais de 34% dos recursos energéticos do planeta.

Uma obra de uma bioconstrução em progresso.
Créditos: Divulgação

E foi a partir do anseio de construir a casa própria, aliado à vontade de contribuir para a redução dos impactos ambientais advindos da construção civil, que Igor Parsekian – consultor e projetista de bioconstruções – iniciou a jornada de materialização não só dos seus sonhos, mas dos de muitas outras pessoas.

“Desde bebê eu moro em uma área rural na cidade de Atibaia/SP, o que despertou o meu amor pelo meio ambiente”, relembra Igor. “Em fazendas, sempre há demandas para construções, como, por exemplo, do galinheiro, do potreiro, da cocheira que nós mesmos construímos… e eu sempre gostei de ajudar nessas obras”, complementa.

Com o passar dos anos, Igor fez alguns cursos relacionados a permacultura, travou contato com técnicas sustentáveis de edificação conhecidas como de bioconstrução e adquiriu experiência a partir de projetos pessoais. Assim, quando entrou na faculdade de Arquitetura, preferiu gastar o dinheiro antes destinado à compra de um carro para tirar do papel um plano antigo de construir a casa própria. “Eu não tinha muito dinheiro para essa obra, menos de 30 mil reais, então eu fiz a casa toda de pau a pique, que é uma das técnicas mais simples para esse tipo de construção”, explica o consultor.

E, botando a mão na massa, aprendendo e ensinando, Igor largou a faculdade, entrou em uma sociedade com um colega que é arquiteto e começou a prestar serviços de edificações utilizando técnicas de bioconstrução.

Mas o que é bioconstrução?

A bioconstrução retoma e atualiza uma série de técnicas milenares e diz respeito a um modo de construção sustentável, a qual é pensada para economizar e otimizar recursos como água e energia. Além disso, são adotados materiais abundantes na região da obra, ou reciclados de demolição, buscando, ainda, não gerar resíduos ao final de todo o processo. Desse modo, há baixos impactos ambientais.

Para termos uma bioconstrução eficiente, é bom sempre avaliar cada caso e cada região, pois algo que é abundante em um local, talvez tenha que ser comprado de fora em outro contexto. O ambiente também vai influenciar nas escolhas, então não dá para pegar uma fórmula e querer replicar”, alerta Igor.

Com isso em mente, é possível apontarmos alguns exemplos de materiais empregados na bioconstrução e que são mais facilmente encontrados em todas as regiões. Um deles é a terra, a qual garante certo conforto térmico dentro do ambiente, já que há uma satisfatória troca de calor e umidade. Ela pode ser utilizada em técnicas como a da construção de paredes chamadas de taipa ou de tijolos conhecidos como adobe, além de ser adotada no lugar do piso, a partir da técnica do piso de terra crua.

Piso feito de barro em uma bioconstrução.
Créditos: Divulgação

Outro elemento muito usado em obras desse tipo é a pedra. Ela serve para erguer paredes e muros, além de ser bastante utilizada no levantamento da fundação da casa – estrutura inicial e que tem como função suportar todo o peso do imóvel. Mais um emprego bastante comum desse recurso é na produção de fornos e fogões a lenha.

A palha é outro material que pode ser adotado em vários processos da bioconstrução, sendo usada principalmente para aumentar a resistência de tijolos e paredes. Por fim, a madeira também é amplamente empregada, tanto em estruturas quanto no acabamento, tendo a vantagem de ser uma fonte renovável – se utilizada de maneira adequada. Todavia, por ser um material orgânico, ela primeiramente precisa passar por um tratamento.

Obras pensadas para cada contexto

Entendendo o conceito básico de bioconstrução e quais materiais podem ser utilizados, também vale o cuidado em relação ao clima e às particularidades da região de realização da obra. Afinal, uma localidade em que chove mais demandará certos cuidados não tão necessários em uma área mais seca. As diferenças também se sobressaem entre as áreas rurais e urbanas. 

“Por exemplo, no meio rural, há mais abundância de materiais, além de ter uma maior flexibilidade em relação às normas de construção. Então dá para fazer algo até mais rústico, aproveitando todos os recursos da região e tendo zero gastos com os materiais utilizados na obra”, explica Igor.

Um pedreiro trabalhando no reboco de uma bioconstrução;
Créditos: Divulgação

Já em contexto urbano, é preciso ter mais cuidado em relação à edificação, tanto no seu aspecto estrutural quanto nas adequações técnicas e jurídicas relativas à sua liberação. “O meio urbano acaba impondo alguns limites que em vários casos não permitem fazer uma casa 100% no modelo da bioconstrução, pois é preciso usar um pouco de ferro e cimento. Mas dá para fazer o reboco e o piso de terra, ou uma cobertura verde em que plantas crescem sobre o telhado, por exemplo. Ou seja, dá para fazer construções híbridas entre o modelo convencional e a bioconstrução”, afirma o projetista.

O perfil do proprietário é outro aspecto a ser considerado, pois ele pode querer desde construções simples e de baixo custo até aquelas luxuosas e que dependem de altos investimentos financeiros. “Levar tudo isso em conta é importante para otimizar os recursos, os materiais, o tempo despendido para a realização da obra, pois cada caso é um caso, e é preciso se adaptar”, diz Igor.

Cuidados para evitar armadilhas

Por ser uma área da construção civil que está começando a se profissionalizar, ainda não havendo leis bem definidas para regulamentar a prática, é importante ter atenção no momento da contratação do serviço. Isso porque existem alguns “aventureiros” que, por falta de experiência ou de conhecimentos técnicos, geram enormes prejuízos materiais e financeiros ao cliente.

“Uma forma de evitar dores de cabeça é estabelecer um diálogo franco com quem você está contratando”, explica Igor. “Conhecer outros projetos que já foram realizados pela pessoa ou empresa e analisar o seu portfólio é um ótimo primeiro passo”, continua.

Adicionalmente, o consultor explica que, em algumas situações, os profissionais podem não possuir um vasto portfólio. “Nesses casos, convém analisar ‘como está o nome da pessoa na praça’, como diz o ditado, ou seja, procurar por referências com outros clientes que atestem, ou não, a qualidade do serviço prestado. Também é interessante buscar vários profissionais de áreas diferentes, mas principalmente um arquiteto, para ter uma opinião ampla sobre o projeto”, esclarece.

Por fim, Igor reforça a importância de combinar todo o projeto antes de contratar o serviço. E isso deve ser registrado, de modo a garantir a proteção legal de ambas as partes caso haja algum problema com o desenvolvimento da obra.

Quais as vantagens da bioconstrução?

Como toda boa novidade, ainda que não seja tão nova assim, a bioconstrução também pode gerar desconfiança. Isso é natural, pois ninguém quer ter prejuízos, principalmente quando se trata da realização do sonho de ter um imóvel próprio.

Desse modo, mesmo com incontáveis benefícios à natureza – devido aos materiais utilizados e à integração com o meio ambiente –, várias pessoas precisam de alguns incentivos adicionais para aderirem a esse tipo de edificação. Por isso, pedimos para o Igor enumerar algumas das vantagens da bioconstrução.

“Em primeiro lugar, as obras possuem uma beleza ímpar, sendo que dá para brincar com os tons de terra, as pigmentações, as texturas etc. E, mesmo que a pessoa não goste de um estilo mais rústico, há a possibilidade de fazer um acabamento mais ‘tradicional’”, explica.

Outro privilégio da bioconstrução é a economia financeira proporcionada não só no momento da obra, mas também no dia a dia, especialmente com água e energia. “Por exemplo, você vai poupar por ter escolhido construir uma parede de terra, porque ela traz uma sensação térmica muito boa para dentro da casa, não precisando instalar ar-condicionado em alguns casos”, comenta Igor.

Além do mais, há uma redução de riscos de acidentes durante a obra, uma vez que a bioconstrução normalmente não demanda maquinário pesado e insumos químicos ou inflamáveis, entre outros aspectos.

Foto demonstrando a impermeabilização de um chão em uma bioconstrução
Créditos: Divulgação

Por fim, uma dúvida que sempre surge é sobre a durabilidade da construção. Contrariando o senso comum, um imóvel erguido com técnicas e materiais da bioconstrução não deixa nada a dever às edificações convencionais. “Mas é bom trabalhar com profissionais capacitados e ter um projeto adaptado a esse tipo de construção”, alerta o consultor. “Não adianta fazer uma casa projetada para ser construída com tijolos, pedra, cimento e ferro querendo utilizar terra pilada, pois não vai dar certo, já que é outra lógica”, finaliza.

Pesando vantagens e desvantagens, além da condição financeira de cada um e das possibilidades estruturais da região, a bioconstrução aparece como uma ótima alternativa para que a realização do nosso sonho de ter uma casa própria ande de mãos dadas com a preservação do planeta.

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