Por Emerson Luchesi
Você já reparou que um lugar natural, bem organizado e adaptado pode gerar uma sensação extremamente positiva? Locais assim nos atraem e neles é que muitas vezes buscamos refúgio, principalmente nos momentos de descanso. Reflita sobre seu ambiente favorito, um determinado espaço físico que você adora estar… o que ele tem de diferente em relação aos aspectos que o compõem?
Imagine um recinto com cores vivas, com plantas que exalam aromas agradáveis, com uma luminosidade natural e um pequeno ruído de água ao fundo, como se fosse uma fonte ou um riacho. Ao mentalizar esse ambiente, certamente você pensou na paz e tranquilidade que ele poderia trazer.
Em contrapartida, um lugar desorganizado, com muitos ruídos, com cores “pesadas” e com excesso ou falta de luminosidade pode gerar emoções negativas e, inclusive, até ser um gatilho para ansiedade, estresse, medo e insegurança.

Percebe que as nossas reações dependem muito dos aspectos do ambiente? Isso de tal modo que certas percepções podem nos induzir a permanecer ou evadir de um determinado lugar. E tais aspectos não são apenas impressões. É cientificamente comprovada a influência que os espaços, construídos ou naturais, podem exercer sobre o nosso bem-estar físico e mental, uma vez que os elementos que constituem o ambiente impactam no nosso comportamento.
Enquanto um determinado local pode aumentar o estresse, a tensão e a ansiedade, outro pode despertar a calma, o alívio e estimular a concentração. Todos esses fatores envolvem a arquitetura, o design, a decoração e a estrutura do espaço em geral.
O tamanho do ambiente, a cor, a tonalidade e textura das paredes, a ventilação, a iluminação, o conforto e a acústica, entre outros elementos, influenciam diretamente nas sensações de quem utiliza o recinto.
Em nossa casa, por exemplo, valorizamos a criação de cômodos que sejam acolhedores, que tenham uma boa iluminação e ventilação (natural e/ou artificial), além de um visual agradável. Isso tanto em relação à cor e textura quanto à organização e estilo dos móveis, de modo que esses aspectos possam gerar conforto e tranquilidade.
Já a área de trabalho de uma empresa precisa estar projetada de acordo com as necessidades dos colaboradores. Recintos que fomentem a criatividade, que impeçam a entrada de ruídos, que tenham uma iluminação adequada, além de cores e texturas agradáveis – que combinem e proporcionem concentração e motivação – são alguns dos aspectos fundamentais para a saúde e comodidade dos trabalhadores.
Mas como projetar espaços em função do bem-estar físico e emocional dos usuários? É pensando nesta relação que emerge a Neuroarquitetura. A aplicação desse conceito favorece a criação e construção de locais mais inteligentes, eficientes, funcionais e humanizados, que estimulem a satisfação e a produtividade. Tal perspectiva se destaca principalmente quando se pensa na projeção de ambientes corporativos, lugares onde passamos boa parte do dia e que exigem concentração, produtividade e criatividade.
Dessa maneira, visando experiências e emoções mais saudáveis, vários aspectos do recinto devem ser pensados, levando-se sempre em consideração a necessidade do espaço e do usuário.
O que significa Neuroarquitetura?
A Neuroarquitetura é um campo de pesquisa que integra os conhecimentos da Neurociência à Arquitetura. Com os avanços da Neurociência, que estuda o cérebro humano, ficou mais fácil entender como os ambientes físicos, projetados pela Arquitetura, podem influenciar o nosso comportamento.
“É uma área que se utiliza dos conhecimentos científicos sobre o funcionamento do cérebro humano para as práticas projetuais da Arquitetura e do Design, com o objetivo de elaborar projetos personalizados, multissensoriais e que promovam o bem-estar físico e mental. Além de atender às necessidades, também aprimora o desempenho, o foco, a aprendizagem e a criatividade dos usuários”, destaca Cristianne Abreu.

Cristianne Abreu é membro da Academy of Neuroscience for Architecture (Academia de Neurociência para a Arquitetura) – ANFA Brasil. Graduada em Arquitetura e Urbanismo, é também mestra em Engenharia Civil e especialista em Neuroarquitetura. Atualmente faz especialização em Neurociência e Psicologia Positiva no Desenvolvimento Humano. Ela explica que a Neuroarquitetura pode abranger várias áreas, contemplando os conhecimentos provenientes da Neurociência, Psicologia, Fenomenologia, Arquitetura e Design. Assim, para a criação de um projeto que vise o equilíbrio, o conforto e o estímulo benéfico dos usuários, há a contribuição de diferentes segmentos e profissionais.
Os projetos desenvolvidos com base na Neuroarquitetura são adaptados de acordo com a necessidade e a finalidade do ambiente, bem como daqueles que o utilizam, a fim de estimular uma experiência positiva envolvendo os cinco sentidos. São exemplos de espaços pensados e projetados à luz desse conceito: locais que incentivem o aprendizado e a concentração; recintos que ativem a descompressão e o descanso; e lugares que favoreçam a recuperação e contribuam para algum tipo de processo terapêutico.
Desse modo, muitas são as maneiras de adequar o ambiente de forma que ele traga não só benefícios físicos, como conforto e mobilidade, mas, principalmente, mentais, contribuindo para o bem-estar emocional.
Como surgiu a Neuroarquitetura?
Segundo Cristianne Abreu, na década de 1960, estudiosos começaram a estabelecer os conhecimentos do que hoje entendemos como Neurociência, ampliando nossa compreensão sobre o comportamento humano. No entanto, foi somente em 2003 que a Neuroarquitetura foi criada. Isto se deu a partir da união de esforços do neurocientista Dr. Fred Gage (pesquisador principal do Salk Institute for Biological Studies) e do arquiteto John P. Eberhard, com o intuito de apreender como o ambiente físico pode influenciar a estrutura e o funcionamento do cérebro humano.
Juntos, Gage e Eberhard fundaram a ANFA, a qual promove e desenvolve pesquisas que unem a Neurociência à crescente compreensão das respostas humanas ao ambiente construído.
A ciência aplicada aos ambientes construídos
A especialista comenta que os conhecimentos científicos da Neurociência empregados na Arquitetura têm ganhado força nos últimos anos. “A Neuroarquitetura vem confirmar, em grande parte, o que a boa arquitetura já vinha fazendo. Porém, agora temos dados científicos que comprovam algumas suposições que a Psicologia Ambiental, a Percepção Ambiental, o Design Biofílico e outras áreas de pesquisa já vinham falando”, ressalta.

Tais conhecimentos deram suporte à elaboração de várias estratégias projetuais, as quais auxiliam no desenvolvimento de ambientes mais personalizados, assertivos, eficientes e que melhoram a experiência do usuário. Dentre essas táticas, temos:
- Iluminação natural indireta e difusa
- Iluminação integrativa
- Ventilação natural
- Conforto acústico
- Layout
- Paleta de cores
- Vistas naturais
- Uso de materiais naturais
- Uso consciente dos princípios da Gestalt e dos processos cognitivos
Cristianne destaca que o foco dos projetos baseados nos conhecimentos da Neuroarquitetura é a experiência do usuário com o ambiente, tendo em vista que os fatores que mais influenciam a satisfação dos usuários são: o conforto (luminotécnico, acústico e térmico), a segurança, a funcionalidade e a autonomia.
A versatilidade e os benefícios da Neuroarquitetura
A especialista comenta que as vantagens da Neurociência vêm chamando a atenção de vários arquitetos e designers que buscam desenvolver projetos a fim de melhorar a qualidade de vida dos usuários em diversos espaços, como aqueles residenciais, corporativos, hospitalares, comerciais, de ensino, dentre outros. Ou seja, os conhecimentos de Neuroarquitetura servem para qualquer ambiente construído ou natural – a exemplo do paisagismo.
Logo, projetos que levam em consideração as técnicas da Neuroarquitetura podem ser aplicados em praticamente todos os tipos de lugares que abrigam o ser humano. Dessa maneira, incrementa-se o bem-estar, estimula-se a colaboração e a criatividade, bem como comportamentos e emoções saudáveis: tudo isso pela percepção do usuário em relação ao recinto.
“A partir do momento em que se conhece como o ambiente pode influenciar o comportamento humano, o projetista utiliza as estratégias de Neuroarquitetura para projetar locais que favoreçam o que o cliente considera bem-estar físico e mental”, ressalta Cristianne.
Assim, com a Neurociência aliada aos projetos criados pela Arquitetura, é possível fazer com que os espaços físicos que nos envolvem sejam mais estimulantes, eficientes, funcionais e adaptados conforme a atividade exercida em cada ambiente. Com isso, os recintos se tornam mais agradáveis e equilibrados, despertando bons resultados, como sensações e emoções positivas à nossa saúde física e mental.