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Moda sustentável como tendência atemporal

A indústria da moda e os caminhos para a redução dos impactos ambientais
set 2023

Por Emerson Luchesi

Você já parou para pensar na procedência das roupas que você compra e se a marca é comprometida com ações sustentáveis? Questionou se a origem da matéria-prima utilizada é confiável, orgânica e sustentável e se o processo de confecção prevê a valorização dos profissionais envolvidos e a responsabilidade com o meio ambiente?

Sabia que a indústria da moda é considerada um dos setores mais poluentes do mundo? Isso devido ao alto consumo e, consequentemente, ao descarte inadequado de um grande volume de peças de roupas que se tornam obsoletas ou que, por algum outro motivo, não usamos mais. Assim, os impactos ambientais gerados por esse segmento são realmente muito expressivos.

Dentre esses impactos, podemos destacar a alta emissão de CO2 e a grande produção de resíduos têxteis, além da elevada demanda de energia e da geração de poluentes relacionados ao processo de tingimento têxtil e a determinados tipos de materiais. Também é saliente a questão hídrica, uma vez que, para se fabricar uma peça de roupa, dependendo do material, são gastos muitos litros de água. Uma camiseta de algodão, por exemplo, requer aproximadamente 3.000 litros desse recurso em seu processo de fabricação. Dá para imaginar o volume usado para fabricar todas as nossas roupas?

A alta do consumo slow fashion – moda lenta e responsável –, que incentiva o consumo mais consciente, com peças de qualidade e mais duráveis, tem contribuído com ações mais sustentáveis. Porém, a demanda do mercado fast fashion – moda rápida, de baixo custo e de baixa qualidade – incentiva o consumo excessivo de roupas descartáveis, barateando peças e impactando negativamente o meio ambiente. Adicionalmente, no setor social, vemos constantemente a exploração de mão de obra para a confecção dessas roupas mais baratas, expondo trabalhadores a duras jornadas de trabalho, a fim de se produzir cada vez mais e vender por menos.

Dois manequins exibindo roupas e um banner do evento Brasil Eco Fashion Week.
Créditos: Carolina Evangelista

Desse modo, é necessária uma abordagem sustentável de tudo aquilo que produzimos e consumimos, inclusive no setor fashion. Pensando nisso, a moda sustentável tem sido cada vez mais notada e valorizada. Essa perspectiva trabalha as questões que envolvem os impactos ambientais, sociais e econômicos provenientes da indústria têxtil, desenvolvendo caminhos e iniciativas que diminuam os danos gerados por esse setor.

Assim, vemos cada vez mais surgirem iniciativas que promovem a produção sustentável, o consumo consciente e a responsabilidade ambiental e social na moda. Para entender mais sobre o assunto, conversamos com Rafael Morais, que é responsável pela Brasil Eco Fashion Produções, uma plataforma que promove ações no segmento de moda e sustentabilidade. Dentre estas, a principal é a realização anual, em São Paulo/SP, da Brasil Eco Fashion Week (BEFW), da qual ele é diretor executivo.

Sustentabilidade, indústria da moda e seus impactos 

Segundo Rafael, os debates acerca do meio ambiente, das mudanças climáticas e do crescimento populacional ganharam destaque a partir da década de 1970, gerando reflexões também no setor da moda. Inicialmente, essas discussões fomentaram iniciativas que otimizassem as criações de estilistas, como medidas para o reaproveitamento de matérias-primas e de retalhos. A partir dos anos 2000, o conceito de sustentabilidade ganhou mais ênfase como um caminho para a redução dos danos ambientais, principalmente no mundo dos negócios. Isso também repercutiu na indústria da moda, tendo em vista a importância desse segmento no mundo inteiro, o qual envolve diversos stakeholders e tem expressivo potencial poluidor.

“Nós temos algumas coisas básicas da vida. Uma delas é que todo mundo veste roupas, causando um impacto significativo através da grande demanda e do alto consumo”, destaca Rafael. O diretor executivo ainda ressalta a quantidade de etapas e pessoas envolvidas na cadeia produtiva da moda. “Desde a plantação da matéria-prima, como o algodão, passando pela colheita, fiamento, processo de industrialização, fornecedores da cadeia produtiva, de beneficiamento, corte, costura, até realmente virar uma roupa pronta, todas essas etapas exigem o envolvimento de muita gente. Isso também é o que ajuda a considerar, nesses últimos anos, a abordagem sustentável do setor”, comenta.

Um auditório cheio de pessoas na Brasil Eco Fashion Week.
Créditos: Carolina Evangelista

Morais enfatiza que, como há um impacto da indústria da moda a nível mundial, políticas de desenvolvimento sustentável, práticas ESG (Environmental, Social and Governance), dentre outras iniciativas, vêm para tentar mitigar isso. Por ser um setor industrial, Rafael afirma que deve haver um bom direcionamento em aspectos que envolvam desde o início do ciclo produtivo até a comercialização e o pós-consumo.

Além dos prejuízos ambientais, também se destacam questões sociais nesse segmento. O diretor executivo afirma que roupas de fast fashion, por exemplo, podem ser mais baratas, mas esses preços escondem muitos problemas, como a exploração de mão de obra em alguns países subdesenvolvidos, com pessoas trabalhando para ganhar valores irrisórios, com jornadas de aproximadamente 14 horas por dia. 

Mais detalhes sobre os impactos ambientais da indústria da moda

O elevado consumo mundial de vestuário é um problema que gera um forte impacto no planeta. No Chile, por exemplo, mais precisamente no deserto do Atacama, há um lixão com toneladas de roupas que são descartadas irregularmente por muitos países da América do Norte, Europa e Ásia. Tamanha é a dimensão desse local que já é possível avistá-lo do espaço. Assim, um dos grandes desafios é dar um direcionamento correto ao que se produz e que depois não é mais usado.

“Na ânsia de se produzir mais e vender mais barato, nem sempre se pensam nas consequências. Assim, um dos grandes problemas é o que fazer com as roupas após o uso, como reciclar e como dar um novo destino a esse material”, ressalta Rafael.

Além da questão do consumo exacerbado e do descarte inadequado, a roupa também pode ser composta por matéria-prima danosa ao meio ambiente. Alguns tecidos, como o poliéster sintético, têm, em sua composição, elementos à base de petróleo, ou seja, um recurso não renovável e que gera poluição. Esse tipo de problema, que abrange o material utilizado e o tipo de processo de fabricação de roupas, aliado ao descarte em lugares inapropriados, gera uma cadeia de sérios  impactos, envolvendo a poluição do solo, da água e do ar

Quatro manequins expondo roupas.
Créditos: Carolina Evangelista

Segundo o site da Brasil Eco Fashion Week, 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis são geradas por ano no mundo, e 20% da contaminação hídrica é associada à produção de moda. Os impactos do setor são tão grandes que essa indústria é considerada a segunda mais poluente do mundo, o que tem salientado a necessidade de implementação de ações eficazes para reduzir esses efeitos. 

Um dos caminhos é se produzir menos com mais qualidade, de modo que as roupas sejam menos descartáveis e mais duráveis, com design atemporal, e, principalmente, com atenção aos processos que envolvem todo o ciclo de vida de um vestuário, desde a escolha da matéria-prima até o descarte adequado do produto. 

Sustentabilidade: uma tendência que não sai de moda

Rafael Morais detalha algumas ações que envolvem a moda sustentável e que contribuem para a diminuição dos problemas ambientais causados pela indústria fashion. Segundo o diretor, é preciso investir na busca por materiais e processos que sejam menos danosos ao meio ambiente. Um exemplo é optar pela adoção de tecidos e matérias-primas que possuam algum tipo de certificação que garanta que a fibra e/ou a substância utilizada foi plantada ou produzida sem gerar impacto ou impactando o mínimo possível.

De igual modo, é de suma importância observar toda a questão relativa às contratações de funcionários e parceiros. Também existem certificações de comércio justo, com atenção à responsabilidade social e à valorização dos profissionais que atuam na indústria da moda.

Alguns sapatos e acessórios expostos em uma mostra de moda.
Créditos: Carolina Evangelista

“Existem essas pequenas ações que o empreendedor pode desenvolver no seu negócio, de modo a ter mais transparência diante do consumidor, como o cuidado com a matéria-prima, funcionários, fornecedores e com os processos que envolvem o beneficiamento dos produtos, além de ações voltadas à economia circular. Essas são pequenas medidas que diminuem os impactos da moda”, afirma.

Outro ponto destacado pelo diretor executivo da BEFW é a utilização da inovação e da tecnologia em prol da mitigação desses impactos. Segundo Rafael, o uso de maquinário específico de corte a laser, supermoderno, por exemplo, pode fazer com que o desperdício de tecido seja bem menor no processo que envolve o corte para a fabricação de roupas. Em modelos tradicionais, com maquinário antigo ou até mesmo com o corte feito à mão, o desperdício é bem maior, gerando uma quantidade significativa de retalhos, especialmente em grandes empresas.

“Essa é uma situação que a indústria brasileira e as de outros países já estão conseguindo resolver melhor, porque viram a necessidade de investir em tecnologia e maquinário adequado para reduzir esse tipo de resíduo”, comenta.

Outra saída que tem sido adotada, segundo o diretor, é o investimento em iniciativas que transformem esse resíduo da produção em um novo fio, desfiando e desfibrando o retalho gerado pelo corte. “Existem caminhos e muitos deles passam pela tecnologia. Ela pode ser usada para otimizar processos produtivos, de maneira a evitar o desperdício e buscar maior eficiência nos processos, desta forma  se consome menos água e menos energia”, destaca.

Desse modo, são algumas das ações que movem o mercado da moda sustentável, muitas com o auxílio da tecnologia: a escolha de materiais de baixo impacto; o uso responsável dos recursos hídricos; a diminuição do desperdício no processo produtivo; e a reciclagem ou descarte adequado do produto não mais utilizado.

“Acredito que o próprio processo de crise climática e ambiental e o impacto que isso causa no cidadão comum têm gerado uma mudança de comportamento. E essa mudança envolve a questão do vestuário, tão presente na vida do cidadão. Nesse sentido, o consumidor está cada vez mais atento em como o ato de consumir pode estar mais alinhado à sustentabilidade. Temas como sustentabilidade e ESG estão tendo uma relevância maior”, ressalta o diretor.

Brasil Eco Fashion Week

Com o objetivo de promover a sustentabilidade no setor da moda e de dar vitrine às ações ambientalmente responsáveis e inovadoras, surgiu a semana de moda sustentável. Assim, o evento tem como intuito fortalecer essa nova cultura na moda brasileira, dando visibilidade às marcas participantes.

“A Brasil Eco Fashion Week surgiu em 2017, através de uma experiência nossa como empreendedores. Tendo uma marca com foco em sustentabilidade desde 2014, sentimos no mercado brasiliero a falta de eventos com esse foco. Não só faltavam eventos pensando no salão de negócios, no showroom para a marca expor seu produto e vender para o consumidor ou para o lojista, mas também faltavam passarelas de moda e desfiles. Nesse sentido, vimos que era uma oportunidade”, comenta o diretor executivo da BEFW.

Um palco de auditório da semana de moda e sustentabilidade brasileira.
Créditos: Carolina Evangelista

A Brasil Eco Fashion Week é uma semana de moda brasileira com foco em sustentabilidade que, desde o primeiro evento, realiza desfiles, exposições interativas com o público através do salão de negócios, atividades de empreendedorismo – com workshops em que as pessoas podem compartilhar o conhecimento sobre os diversos processos que envolvem o setor –, além de palestras sobre o ramo da moda sustentável.

“Fazemos um evento que se tornou uma plataforma de geração de negócios, que cria conexão com empreendedores. Já estamos no sétimo ano e estamos em busca de ampliar as próximas edições para atingir mais público, mais consumidores e mais empreendedores”, finaliza Rafael Morais.

Para você que está atento à moda sustentável e busca consumir de forma consciente e responsável, listamos algumas marcas de diversas regiões do Brasil que têm essa abordagem. Confira:

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