Por Edmar Neves

Há pouco tempo atrás, para aprender um novo idioma era necessário sair de casa duas vezes por semana, ir à escola de idiomas e passar horas estudando coisas básicas como o “verbo to be” do inglês ou os “saludos” do espanhol.

Hoje, crianças, adolescentes e muitos adultos aprendem ou complementam seus conhecimentos em língua estrangeira dentro de casa e em muitos casos sem nem perceber, realizando atividades através de jogos interativos utilizando aplicativos de celular. O nome dessa magia que torna o aprendizado de idiomas algo mais prático e divertido? A gamificação.

Por conta das inovações tecnológicas, os aplicativos de ensino de idiomas surgem como um grande aliado para quem quer praticar, complementar seus conhecimentos ou até mesmo aprender outra língua do zero.

“Mesmo com a volta da presencialidade, as aulas online e a utilização de novas tecnologias se intensificaram durante a pandemia e continuam a ter espaço nesse período de ‘volta à normalidade’”, é o que nos explica Analigia Martins, diretora de marketing do Duolingo no Brasil.

Para a diretora de marketing, as pessoas experimentaram essa interação de ensino e perceberam que ela pode ser muito prática e eficiente tanto como uma forma de complementar os conteúdos aprendidos em um curso mais “tradicional”, quanto para trilhar o próprio caminho nessa jornada de conhecimento.

“Outra característica importantíssima de aplicativos como o Duolingo é o uso de inteligência artificial e machine learning para ensinar idiomas, garantindo que o usuário tenha contato com lições específicas que estão no nível ideal para que a pessoa não ache a atividade muito difícil e desista logo, ou que não seja fácil demais”, comenta Analigia.

Além disso, o uso dos elementos de jogos no ambiente de aprendizado, técnica conhecida como “gamificação”, ajuda a envolver e engajar os usuários nas atividades, potencializando a absorção dos conhecimentos e o avanço nas tarefas.

“Os jogos e plataformas gamificadas também funcionam como redes sociais em que os usuários interagem entre si trocando informações, conhecimentos e socializando com pessoas do mundo todo”, afirma Analigia.

Atendendo a públicos diversos

E se engana quem pensa que esses aplicativos são utilizados apenas por pessoas de pouca idade. No caso do Duolingo, a média de idade dos usuários brasileiros é de 30 anos, sendo um pouco maior que em outros países.

A professora de inglês Larissa Fajardo, graduada em Letras pela UFSCar, atua há 6 anos com crianças do ensino fundamental em diversas instituições de ensino e com estudantes universitários no projeto Inglês sem Fronteiras. Ela explica que mesmo que o público de usuários de aplicativos de idiomas seja mais jovem, pessoas de todas as idades têm facilidade para utilizá-los.

 “Como esses aplicativos se estruturam por nível, o usuário pode iniciar em um nível básico que tem um suporte maior da língua portuguesa”, explica Larissa.

“Talvez o que possa ser uma barreira seja o fato da pessoa não ter nenhum grau de familiaridade com tecnologias digitais para que consiga utilizar o aplicativo e acessar as atividades”, completa.

Os aplicativos são bastante intuitivos, o que ajuda muito na interação e no desenvolvimento das atividades. “Você clica numa palavra e já consegue escutar a pronúncia dela, ver qual a sua tradução e dessa maneira vai se consolidando a compreensão do conteúdo”, diz Larissa.

O uso dos aplicativos em sala de aula

As possibilidades oferecidas pelos aplicativos de ensino de idiomas são tão diversas e eficientes que muitas escolas e professores particulares acabam adotando-os em suas aulas, seja em atividades em sala, seja em tarefas complementares realizadas em casa.

“Eu costumo oferecer essa alternativa para os meus alunos e eles gostam bastante porque o Duolingo, por exemplo, é em formato de jogo e isso atrai muito as crianças que querem passar de nível”, relata Larissa sobre a sua experiência. “E mesmo que as escolas onde eu trabalhe não utilize esse aplicativo, sempre estimulo os alunos a baixarem e pergunto em sala o que aprenderam para incentivar quem não baixou a estudar usando o método”, diz.

A professora comenta que em uma das escolas onde trabalha há um aplicativo de jogos exclusivo da instituição, sendo que uma das lições solicita que as crianças joguem em suas casas utilizando o aplicativo.

 “São jogos em inglês que dialogam com o conteúdo trabalhado em sala. Algo interessante é que o jogo faz parte da tarefa, mas depois de um tempo de uso ele é bloqueado para as crianças não ficarem um longo período na frente do celular”, conta Larissa.

Já durante as aulas há momentos em que os alunos fazem tarefas utilizando um aplicativo de ensino, algo que mobiliza toda a turma e garante mais diversão com a aprendizagem por quebrar a rotina de atividades na sala.

Apps para aprender idiomas valem a pena?

A resposta dessa pergunta varia de acordo com o perfil de cada pessoa. Por isso é importante pesar as vantagens e desvantagens de utilizar um aplicativo desse tipo.

Entre as vantagens estão a oportunidade de iniciar os estudos em língua estrangeira do zero e com baixo custo, ou mesmo sem custo nenhum. “Eu acho isso maravilhoso, porque aumenta o acesso das pessoas a esses conteúdos, fornecendo mais oportunidade para que elas aprendam uma nova língua”, comenta Larissa.

Outra vantagem de se utilizar um aplicativo desses está nas possibilidades de complementar a lição aprendida em um curso de modelo mais “tradicional”, por exemplo, pois estimula o interesse dos usuários dando a chance de expandir o conhecimento que vem sendo adquirido.

Agora, muitos desses aplicativos não possibilitam uma grande interação com professores e outros usuários, o que é uma desvantagem, principalmente quando a intenção é treinar a conversação em outra língua, sendo algo que pode prejudicar o desenvolvimento desse tipo de competência.

Um aplicativo para chamar de seu

Atualmente, há uma grande variedade de aplicativos de ensino de idiomas no Brasil que trazem conteúdos sobre línguas estrangeiras, com metodologias de aprendizado e recursos tecnológicos diversos para se adequar a qualquer perfil de usuário.

O Duolingo é um dos principais aplicativos de ensino de idioma utilizados pelos brasileiros. Nele há opções de mais de 30 línguas para serem estudadas, inclusive línguas em risco de extinção e fictícias, como o alto valiriano de Game of Thrones e o idioma klingon de Star Trek. O aplicativo se baseia fortemente na “gamificação” para estimular o usuário a ter uma frequência de estudos e conta com atividades de tradução, audição e fala.

Já o Babbel recorre a situações cotidianas para que o usuário estude os mais de 14 idiomas, entre eles holandês, russo, polonês sueco, norueguês, turco, entre outros. Inclusive há um curso que ensina português para estrangeiros! As atividades fazem uso de repetição e merecem destaque as revisões dos assuntos já estudados, que permitem que o usuário mantenha o conteúdo sempre fresco na memória.

Por falar em memorização, esse é o principal recurso pedagógico utilizado pelo Memrise, que conta com cursos para 11 idiomas diferentes. Além disso, há conteúdos voltados para provas de proficiência em língua estrangeira como o TOEFL e o IELTS, voltados para a língua inglesa.

Uma última indicação é o TripLingo. Focado em usuários que pretendem viajar, o aplicativo apresenta traduções e frases prontas para quem está viajando por um país cuja língua é desconhecida pelo usuário, facilitando a hora da comunicação. Além disso, o TripLingo também oferece cursos de idiomas com áudios gravados, flash cards para ajudar na memorização dos conteúdos e um quiz com perguntas simples para quem quer estudar em curtos períodos de tempo.

Esses são apenas alguns exemplos de aplicativos disponíveis em nosso mercado. Cada um de nós tem uma forma de lidar com os conteúdos e um ritmo diferente de estudos, então vale pesquisar e testar os múltiplos aplicativos para descobrir qual deles se encaixa melhor no seu perfil.

Mas o mais importante é que com tantas variedades e metodologias diferentes, aprender um novo idioma deixou de ser uma tarefa desgastante e monótona, passando a ser algo dinâmico e, por que não dizer, até mesmo divertido graças ao recurso da gamificação das atividades oferecidas.